Os donos de Baltimore
We Own This City é a nova série de David Simon, o criador de The Wire, que o vê a olhar para a brutalidade policial da sua cidade, feita a meias com o escritor de policiais e colaborador assíduo George Pelecanos.
Em 2017, os oito membros de uma unidade de rastreamento de armas da polícia de Baltimore, que tinham a tarefa de tirar armamento das ruas e uma reputação de muito sucesso, foram indiciados por extorsão, roubo, fraude, entre outros crimes. Ameaçavam pessoas por dinheiro, cometeram fraude com horas extraordinárias, mentiram em relatórios, roubaram e venderam drogas. O comissário da polícia de Baltimore da altura, Kevin Davis, chamou-lhes mesmo “gangsters à moda dos anos 1930”. Essa história, feita de brutalidade policial e corrupção, foi registada em livro por Justin Fenton, repórter do jornal The Baltimore Sun, em We Own This City: A True Story of Crime, Cops, and Corruption.
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Em 2017, os oito membros de uma unidade de rastreamento de armas da polícia de Baltimore, que tinham a tarefa de tirar armamento das ruas e uma reputação de muito sucesso, foram indiciados por extorsão, roubo, fraude, entre outros crimes. Ameaçavam pessoas por dinheiro, cometeram fraude com horas extraordinárias, mentiram em relatórios, roubaram e venderam drogas. O comissário da polícia de Baltimore da altura, Kevin Davis, chamou-lhes mesmo “gangsters à moda dos anos 1930”. Essa história, feita de brutalidade policial e corrupção, foi registada em livro por Justin Fenton, repórter do jornal The Baltimore Sun, em We Own This City: A True Story of Crime, Cops, and Corruption.
É agora uma minissérie de seis episódios HBO co-criada por David Simon e George Pelecanos que chegou a Portugal esta terça-feira, via HBO Max. A realização está a cargo de Reinaldo Marcus Green, que assinou King Richard, o tal filme que valeu a Will Smith o Óscar dado pós-estalada. Simon não é só um ex-repórter policial do mesmo jornal de Fenton, tendo trabalhado lá entre 1982 e 1995, foi ele quem recomendou originalmente ao jornalista que escrevesse um livro a partir das reportagens que estava a fazer na altura em que o caso se tornou público. É, também, alguém que há décadas traz o que se passa nas ruas de Baltimore (e outras cidades) para o pequeno ecrã, tendo sido, nos anos 1990, responsável pelo livro que deu origem a Departamento de Homicídios e, na década seguinte, tendo feito The Corner e The Wire. Pelecanos, conhecido pela escrita de livros policiais, também escreveu para The Wire e Treme, outra série de Simon, e co-criou The Deuce com ele.
Foco: realismo
No centro de tudo está Jon Bernthal, de The Walking Dead, The Punisher ou O Lobo de Wall Street, no papel de Wayne Jenkins, o líder da unidade, e Wunmi Mosaku, de Luther, Lovecraft Country e Loki, como Nicole Steele, uma procuradora que está a investigar brutalidade policial após o homicídio de Freddie Gray às mãos da polícia, algo que aconteceu em 2015. Estão à frente de um elenco recheado de nomes recorrentes do universo de Simon (Bernthal tinha aparecido em Show Me a Hero), incluindo Jamie Hector e Delaney Williams, entre muitos outras caras que vimos crescer na televisão, bem como Josh Charles, de Sports Night e The Good Wife, que faz do polícia mais violento da unidade, um papel de vilão que não lhe é comum, ou Treat Williams, que faz de um polícia tornado professor de liceu (uma personagem baseada em Ed Burns, colaborador assíduo de Simon que também é um dos argumentistas desta série).
Com menos humor do que é habitual nestas lides, a série está muito focada em realismo e anda para a frente e para trás no tempo para mostrar os níveis de corrupção da cidade, os primeiros passos dos agentes, ou a investigação que os levou à justiça. Simon e Pelecanos estão, como sempre, empenhados em demonstrar que a chamada “guerra contra as drogas” é algo que tem de acabar, e parecem estar menos optimistas quanto à polícia em geral. Apesar de não chegarem ao ponto de subscrever a ideia em voga de que é preciso “desfinanciar a polícia”, também não têm muita fé nem no sistema, nem em haver bons polícias que o consigam contornar.
Os créditos iniciais, que incluem áudio do comissário a chamar-lhes gangsters, parecem algo anacrónicos, como de uma série de televisão por cabo americano com um orçamento modesto de há 20 anos, a altura em que The Wire saiu originalmente. Há muito que mudou entre essa altura e os dias de hoje, especialmente na forma como a brutalidade e corrupção policial estão mais expostas – mesmo que muitas vezes sejam ignoradas – graças ao advento das câmaras de telemóveis.