Conferência Episcopal diz que sofrimento das vítimas da guerra “não pode ser em vão”

“A ambição cega de um regime não pode beliscar o direito à auto-determinação” de um povo, defendeu o bispo José Ornelas, num apelo ao reforço das instituições internacionais com capacidade de mediação neste conflito.

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José Ornelas, líder da Conferência Episcopal Portuguesa LUSA/PAULO CUNHA

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, José Ornelas, disse este domingo, em Fátima, que “o sofrimento das vítimas” da guerra na Ucrânia “não pode ser em vão” e “deve conduzir ao reforço das instituições internacionais”.

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O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, José Ornelas, disse este domingo, em Fátima, que “o sofrimento das vítimas” da guerra na Ucrânia “não pode ser em vão” e “deve conduzir ao reforço das instituições internacionais”.

Na abertura da assembleia plenária da Conferência Episcopal, o mesmo responsável considerou que “todos os povos têm direito a lutar pela sua auto-determinação” e que “a ambição cega de um regime não pode coarctar ou beliscar esse direito, muito menos invocando razões históricas ou até religiosas”.

“O tempo que vivemos é muito desafiador e exige de todos nós um grande sentido de responsabilidade. Aos poderes públicos exige-se competência: para travar a guerra, para encontrar soluções duradouras de paz e para gizar políticas que ajudem as populações a ultrapassarem os constrangimentos de uma economia de guerra e a viver com dignidade”, observou o também bispo de Leiria-Fátima, fazendo notar que este conflito tem consequências em todo o mundo, agravando as dificuldades económicas e sociais provocadas por dois anos de pandemia.

“Se é verdade que a situação pandémica conhece melhorias, requerendo atenção constante, já os efeitos da guerra, com a escassez de produtos, a subida dos preços e a progressiva tensão política internacional estão a provocar o agravamento das condições de vida. Sobretudo das pessoas e famílias que dispõem de menores recursos”, enfatizou José Ornelas, defendendo que “o sofrimento das vítimas desta guerra não pode ser em vão, mas deve conduzir ao reforço das instituições internacionais com real capacidade de mediação e de promoção de uma humanidade baseada na justiça, na dignidade e na paz de um Direito Internacional que a humanidade ainda não conseguiu implementar”.

Apelidando o conflito na Ucrânia de “bárbara e incompreensível guerra, com consequências de trauma, destruição e morte para a população ucraniana e com consequências gravíssimas para toda a humanidade”, o presidente da Conferência Episcopal aproveitou a ocasião para expressar aos ucranianos “solidariedade, proximidade e oração da Igreja em Portugal”.

O bispo louvou ainda todo o apoio dado aos refugiados deste país, mas considerou necessário, “tanto da parte do Governo como das instituições civis e religiosas, um reforço de atenção e coordenação, para evitar o perigo de aproveitamentos ilícitos das pessoas vulneráveis”. Aludiu ainda à consagração da Ucrânia e da Rússia ao Imaculado Coração de Maria, realizada por iniciativa do Papa Francisco, simultaneamente em Roma e em Fátima, no dia 25 de Março, considerando-a “expressão dos sentimentos de solidariedade e esperança activa na superação desta brutal agressão, assim como da continuidade da generosa assistência aos que são vítimas dela”.

Os bispos portugueses estão reunidos em assembleia plenária na Casa de Nossa Senhora das Dores, no Santuário de Fátima, até à próxima quinta-feira. Da ordem de trabalhos, constam, entre outros temas, a aprovação dos documentos “Itinerário de iniciação à vida cristã com as famílias, crianças e adolescentes”, “Ministérios laicais numa Igreja ministerial” e alterações à “Instrução sobre o direito de cada pessoa a proteger a própria intimidade”, bem como a metodologia de acesso aos arquivos diocesanos por parte da comissão independente criada para o estudo dos abusos sexuais no seio da Igreja Católica e a Jornada Mundial da Juventude do próximo ano, em Lisboa.