Palcos da semana
O cinema do IndieLisboa, as notas de Ludovico Einaudi e os movimentos de La Sylphide marcam a agenda de Lisboa. E enquanto Guimarães celebra a dança, Almada põe em cena O Misantropo.
Piano de notas fluidas e emoções fundas
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Piano de notas fluidas e emoções fundas
Pianista e compositor italiano, Ludovico Einaudi é convidado assíduo dos palcos portugueses, com quem tem uma “relação especial” – alimentada em parte pela calorosa recepção do público, com que é brindado sempre que por cá passa. Das colaborações com Rodrigo Leão aos mais recentes aplausos da crítica pelas paisagens sonoras que construiu para os filmes Nomadland - Sobreviver na América e O Pai, sem esquecer a Elegia para o Ártico, peça que tocou in situ, numa plataforma flutuante em águas norueguesas, a convite da Greenpeace e à boleia de uma campanha para travar o degelo, o músico volta agora ao registo mais puro e intimista com Underwater. Reflexo da sua experiência durante a pandemia, o álbum traz emoções fundas, sem filtros nem interferências. Nas palavras de Einaudi, “surgiu naturalmente, como nunca antes aconteceu” e resulta de “uma sensação de liberdade para me abandonar de mim mesmo e deixar a música fluir de forma diferente”.
Emoção e erotismo na tela do IndieLisboa
Depois de um par de anos com a tela apontada ao Verão, por conta da pandemia, o festival de cinema independente volta a ter ares de Primavera. Nesta que é a 19.ª edição do IndieLisboa, o cartaz alinha cerca de 250 filmes e aponta o foco à produção nacional, numa “verdadeira prova de vitalidade do cinema português”, explicam na nota de intenções. A retrospectiva dedicada à realizadora norte-americana Doris Wishman – pioneira da sexploitation feminina, com títulos como Bad Girls Go to Hell, Another Day, Another Man ou Nude on the Moon –, a secção que celebra os 40 anos da distribuidora francesa Light Cone, a selecção do IndieMusic (com filmes sobre Cesária Évora, Anonymous Club, Patti Smith ou Telectu) e o IndieJúnior são alguns dos destaques à margem das competições.
Misantropia, com todo o respeito
“Crimp tratou Molière como Molière tratou Plauto: apropriou-se do tema central e intemporal da história e redistribuiu os papéis com inteligência e respeito”, escreveu o The Sunday Times a propósito da peça que o dramaturgo britânico Martin Crimp adaptou, saída da pena de Jean-Baptiste Poquelin, mais conhecido como Molière. Um clássico numa versão moderna, O Misantropo estreia-se agora pelas mãos da Companhia de Teatro de Almada, numa encenação de Nuno Carinhas. No centro da trama está um cáustico Alceste e os conflitos entre “a conformidade e a inconformidade”, a verdade e a hipocrisia, os valores e a decadência. André Pardal, Ivo Alexandre, Ivo Marçal, João Cabral, João Farraia, Leonor Alecrim, Pedro Walter, Teresa Gafeira e Tânia Guerreiro compõem o elenco.
Seres alados e a existência em pontas
Criado por Fillipo Taglioni e estreado em 1832 na Academia Real de Música de Paris, La Sylphide é um marco na história da dança. Considerado o primeiro bailado romântico, dançado pela lendária bailarina Marie Taglioni, evidenciou elementos como “a utilização de pontas, de saias compridas de musselina branca e o recurso a personagens que evocam seres sobrenaturais”, explica a folha de sala. A coreografia entrou no repertório da Companhia Nacional de Bailado em 1980, numa versão de Auguste Bournonville musicada por Herman Löwenskjold, e é reposta com a colaboração da Orquestra Sinfonietta de Lisboa e da Orquestra Sinfónica Portuguesa. No elenco está também uma convidada especial: a russa Maria Kochetkova, que veste o papel de Sylphide nos dias 5, 7 e 12 de Maio. Juntos dão vida à história de um amor impossível entre um homem escocês e um espírito alado, numa narrativa habitada por alguns dos grandes temas da época: a paixão avassaladora, a morte, o sobrenatural e a mulher ideal.
Celebrar a dança e dançar com a diferença
Dança, música e vídeo interligam-se em Endless para accionar a memória do Holocausto e para, através dela, perspectivar a actualidade. Concebido e dirigido por Henrique Amoedo, com interpretação do grupo Dançando com a Diferença, o espectáculo é uma das propostas alinhadas pelo Centro Cultural Vila Flor para fazer a festa ao Dia Mundial da Dança e o brinde à inclusão. Outra é Coreografia, criação de João dos Santos Martins que propõe uma reflexão sobre a prática coreográfica procurando “construir uma dança que é um texto e escrever um texto que é uma dança”. Em palco estão os cúmplices Adriano Vicente (bailarino) e João Barradas (músico). Com a bandeira da inclusão ao peito, as peças são acompanhadas com audiodescrição e Língua Gestual Portuguesa.