O homem que se “armou em jornalista estrangeiro” para fotografar a Revolução

Embora a câmara fotográfica fosse nova, a experiência na fotografia era pouca. Mas isso não demoveu Félix do Nascimento Esteves de correr para o Terreiro do Paço assim que soube da revolta. Ao longo do dia fez-se passar por “jornalista estrangeiro” para estar onde outros não podiam. Captou tanques, protagonistas, alegria e momentos de tensão. Quarenta e oito anos depois, decidiu partilhar as suas fotografias do 25 de Abril. Um olhar popular da Revolução.

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Já não sabe ao certo quem lhe telefonou. Mas lembra-se bem do que lhe disseram nessa chamada: “Olha que a Revolução já está na rua!” Félix do Nascimento Esteves tinha 29 anos e cursava Direito, em Lisboa. Vivia num quarto alugado em Entrecampos e a resposta a quem o avisou sobre o que se estava a passar no dia 25 de Abril de 1974 foi pronta: “Ai sim? Onde? Vou já para aí!” E foi. Numa sacola comprada na Feira da Ladra meteu uma Yashica IC e todos os rolos que tinha em casa. A câmara era nova, a experiência na fotografia era pouca. Ainda assim, foi a fotografar que se sentiu “associado” ao frenesi da revolta e à alegria nas ruas da capital. E foi com esta câmara em punho que se fez passar por “jornalista estrangeiro”. Com ela, com uma boa dose “de sangue frio e muito à vontade”, conseguiu entrar “dentro do perímetro de segurança”, estar muito perto de alguns dos principais momentos da Revolução.