Parlamento do Níger aprova a entrada de soldados europeus, incluindo portugueses, para combater o jihadismo

Os 2400 militares franceses e 900 europeus que estavam no Mali vão agora lutar contra os grupos extremistas no Sahel em solo nigerino. Oposição teme a perda da soberania nacional.

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Membros da task force europeia Takuba quando ainda estavam no Mali PAUL LORGERIE/Reuters

O Parlamento do Níger ratificou a decisão do Governo que autoriza o destacamento no país de forças militares europeias para lutar contra os grupos jihadistas, pondo fim a um processo iniciado em Fevereiro para converter o país no epicentro da luta internacional contra o extremismo islamista no Sahel.

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O Parlamento do Níger ratificou a decisão do Governo que autoriza o destacamento no país de forças militares europeias para lutar contra os grupos jihadistas, pondo fim a um processo iniciado em Fevereiro para converter o país no epicentro da luta internacional contra o extremismo islamista no Sahel.

A Assembleia nigerina aprovou o projecto de lei remitido inicialmente a 4 de Março pelo Conselho de Ministros e que permitirá a chegada de aproximadamente 2400 soldados franceses da Operação Barkhane e 900 membros da Task Force Takuba, com forças especiais de outros dez países europeus (e o apoio do Canadá), incluindo alguns oficiais de ligação portugueses.

Os governos de França e dos restantes países envolvidos anunciaram em Fevereiro a retirada das suas forças do Mali, onde estavam até agora destacadas para ajudar Bamako na luta contra o jihadismo.

Entre os motivos da retirada do Mali está a oposição de parte da população à presença de tropas estrangeiras, principalmente de França, a antiga potência colonial, e às crescentes tensões com a Junta militar que tomou o poder através de um golpe.

Os militares golpistas voltaram-se para o Grupo Wagner, empresa de segurança próxima do Kremlin e de Vladimir Putin, que se transformou no seu principal apoio estrangeiro, entre críticas de França e dos seus aliados por causa de possíveis violações dos direitos humanos cometidas pelos mercenários russos.

A decisão de aceitar a presença de tropas estrangeiras no Níger foi tomada pelo Presidente Mohamed Bazoum em Fevereiro que depois a submeteu a debate, ainda com muitas incógnitas em torno das condições do destacamento dessas forças, não se livrando de fortes críticas da oposição, nomeadamente a possibilidade de perda da soberania nacional.

“Não pudemos ver o que consta nestes acordos de destacamento. Pediram-nos basicamente que passássemos um cheque em branco ao Governo”, lamentou o deputado da oposição Soumana Sanda, em declarações à RFI.

O resultado da votação – 131 votos a favor e 31 contra – reflecte a enorme maioria que o Partido Nigerino para a Democracia e o Socialismo, do Presidente Bazim, detém no Parlamento nigerino.

O primeiro-ministro, Ouhoumoudou Mahamadou, justificou a necessidade de abrir as portas do país a forças estrangeiras no seu discurso, adianta a RFI. “O nosso exército é um dos melhores da África Ocidental, mas isso não é suficiente porque os terroristas chegam de todos os lados e o nosso território é vasto”, disse.

“A evolução da situação de segurança exige um compromisso comum do Governo do nosso país e de outras nações para uma luta eficaz contra o terrorismo, no marco dos acordos de cooperação bilateral ou multilateral existentes ou futuros”, acrescentou, segundo o site Actu Niger.

Segundo o Chefe do Estado-maior francês, o general Pierre Villiers, numa recente visita a Niamey, os termos do acordo entre a França e o Níger ainda não foram definidos e só o serão em Junho, “em função das necessidades expressas pelos países participantes.