Entre o receio e o alívio do fim das máscaras: “Somos livres, finalmente. Podemos respirar!”

Após 719 dias a entrar de máscara em todos os locais fechados, a hesitação e reticência em deixar de a usar são notórias. Neste primeiro dia de “liberdade”, as máscaras ainda fizeram parte do quotidiano dos portugueses.

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O uso de máscaras deixou de ser obrigatório esta sexta-feira em quase todos os locais, mas ainda se nota muita insegurança e hesitação entre as pessoas perante o que outras classificam de uma nova sensação de “liberdade”. Sobretudo nos sítios fechados, por haver geralmente uma maior aglomeração de pessoas, mas mesmo nas ruas ainda preponderam as máscaras nos queixos, nas mãos ou envoltas nos cotovelos, prontas para serem usadas.

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O uso de máscaras deixou de ser obrigatório esta sexta-feira em quase todos os locais, mas ainda se nota muita insegurança e hesitação entre as pessoas perante o que outras classificam de uma nova sensação de “liberdade”. Sobretudo nos sítios fechados, por haver geralmente uma maior aglomeração de pessoas, mas mesmo nas ruas ainda preponderam as máscaras nos queixos, nas mãos ou envoltas nos cotovelos, prontas para serem usadas.

É a força do hábito, justificam Inês e Diogo, dois jovens que passeiam no MAR Shopping, no Algarve, sem máscara na cara, apesar de no bolso guardarem uma “para o caso de”. Dizem sentir-se “felizes” pelo Governo ter dado este passo depois de mais de dois anos de pandemia: “Somos livres, finalmente. Podemos respirar!”, sublinham. Este casal é dos poucos em todo o centro comercial com a cara descoberta, pelo que sentem o peso do olhar dos outros. Segundo Inês, é precisamente a “vergonha” e o receio de se ser julgado que está a inibir muitas pessoas. Até porque já viram algumas a ganhar coragem para tirar a máscara depois de olharem para eles e aperceberem-se de que já não é crime mostrar o sorriso. “É muito giro ver o comportamento das pessoas”, repara Inês.

Joana, por seu lado, outra jovem, vai continuar a usar máscara em espaços fechados, “pelo menos para já”. Já passou tanto tempo desde que esta obrigação entrou em vigor que ainda não se sente “confortável” em abdicar dela, acrescentando que “até parece estranho” entrar num sítio sem ter nada na cara.

“Confortável” é também a palavra usada por Margarida, uma funcionária do IKEA que também diz que prefere continuar a precaver-se uma vez que os “números ainda estão um bocadinho altos”. Há ainda uma grande incerteza perante o futuro, diz Margarida. Tudo depende, por isso, “de como as coisas avançarem”, mas confessa que não deverá demorar muito até que deixe de usar a máscara, justificando que está na altura de “lidar com a covid-19 como se fosse uma gripe normal” dada a elevada taxa de vacinação que se verifica no país.

Além deste receio e hesitação que se denota pelo facto de se tratar de uma mudança muito recente, várias pessoas confessaram também não ter a certeza se seria mesmo a partir de hoje que a nova medida entrava em vigor. É o caso de Carla, que, de acordo com as notícias que vira na quinta-feira à noite, pensava que seria aplicada só a partir de sábado. Só depois de confirmar junto de um segurança do centro comercial é que decidiu tirar a máscara – algo para o qual já não tinha “paciência”. Houve, por isso, alguma falta de clareza na mensagem do Governo, diz.

Rostos desmascarados pela primeira vez após 719 dias

No supermercado Continente, em Loulé, são mais os funcionários do que os clientes que decidiram deixar cair a máscara. Rafael não pensou duas vezes quando foi informado de manhã que quem quisesse deixar de usar já tinha permissão para o fazer. Já estava “farto” de não conseguir respirar bem durante o dia todo, observando ainda que os próprios clientes que entram sem máscara trazem um sorriso na cara. “Parecem felizes”, nota. Mas são poucos os que o fazem por ser “tudo muito recente” e ainda terem “medo” do vírus, observa.

Isto de se passar a ver os rostos a quem se conhecia apenas a voz e os olhos não deixa de ser uma fase “estranha”, observa Cândida, cliente habitual do supermercado. “É bom, mas estranho” voltar a ver as caras a 100%, relata Cândida, como a da rapariga da charcutaria cujo sorriso já não via há dois anos. Apesar de estar contente com a decisão, por um lado, por outro acha que o Governo poderia ter esperado mais uns tempos para avaliar a evolução da pandemia. “O vírus ainda anda por aí”, lembra, dando o exemplo da sua consulta de dentista que foi cancelada esta semana precisamente por causa de o médico estar com covid-19. Apesar de ter ainda algum receio, diz que tirará a máscara assim que a maior parte das pessoas deixarem também de usar. “Vamos ver no que dá”, afirma.

Também no mercado desta cidade algarvia, onde uma parte considerável dos vendedores, sobretudo na peixaria, já vinha a deixar cair a máscara nos últimos tempos, recebe-se de bom grado os rostos dos clientes agora desmascarados. “É bom ver de novo os sorrisos, as pessoas em si entram mais à vontade para verem as coisas, porque já não precisam daquela coisa do põe, tira e põe a máscara. Mesmo o contacto com a pessoa acaba por ser diferente”, revela Marzila, uma peixeira que continua a usar máscara, todavia, por ter pessoas de idade e um bebé em casa que requerem um maior cuidado. Para Marzila é só uma questão de tempo até que a situação volte ao que era: “Mais uma semaninha e ninguém vai utilizar máscara de certeza”. Espera, contudo, que esta liberdade não tenha um preço caro, como por exemplo um novo pico de contágios. “Espero que desta vez seja de vez”, sublinha.