No Iraque, os ambientalistas lutam pela sobrevivência dos leopardos-da-pérsia
No Iraque, o habitat do leopardo-da-pérsia tem vindo a desaparecer. A ambientalista curda Hana Raza estima que ainda haja 25 indivíduos da espécie no Iraque.
Ao atar uma armadilha fotográfica ao tronco de uma árvore na montanha Bamo na região do Curdistão, no Iraque, os irmãos Bahez e Nabaz Farooq Ali esperam capturar imagens do leopardo-da-pérsia, espécie que só conta com mil exemplares, no meio selvagem, por todo o mundo.
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Ao atar uma armadilha fotográfica ao tronco de uma árvore na montanha Bamo na região do Curdistão, no Iraque, os irmãos Bahez e Nabaz Farooq Ali esperam capturar imagens do leopardo-da-pérsia, espécie que só conta com mil exemplares, no meio selvagem, por todo o mundo.
“Os nossos avós viam alguns mesmo durante o dia”, diz Nabaz. Desde essa altura, os leopardos começaram a desaparecer.
Grande parte dos leopardos-da-pérsia encontra-se no Irão e no Afeganistão. A ambientalista curda iraquiana Hana Raza estima que ainda haja 25 deles no Iraque. O animal é listado como “em perigo” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em inglês).
Actualmente, ambientalistas no Curdistão defendem a intensificação dos esforços para proteger a espécie, cuja sobrevivência os preocupa cada vez mais. A dramática perda do habitat, avanço da presença humana, a caça e o impacto da guerra são algumas das razões que levaram à condição ameaçada dos leopardos. Raza estima que 25 seja um número abaixo do necessário para uma população viável.
Soran Ahmed, biólogo na Universidade de Sulaimani que monitoriza o leopardo, afirma que já foram registados outros dez animais vivos. Contudo, cerca de dez também foram encontrados mortos, na última década. Ahmed viu dois deles a serem baleados, conta.
O leopardo-da-pérsia está a ficar sem habitats
Quando os irmãos Ali voltaram para Horen, em 1991, após terem sido desalojados após uma violenta campanha de Saddam Hussein contra os curdos, viram a sua vila ficar deserta e parcialmente em ruínas. “Quando as pessoas regressaram para reabilitar as suas vilas, também começaram a caçar de forma aleatória”, diz Nabaz. A caça de presas dos leopardos, como as cabras-selvagens, contribui para a redução do número dos felinos.
Embora a caça de espécies em perigo seja proibida na região do Curdistão, no Iraque, e qualquer pessoa que seja apanhada esteja sujeita a uma multa, as regras podem ser difíceis de aplicar, afirma Akram Saleh, elemento da Guarda Florestal local. “A área é muito grande e não temos os recursos necessários para a cobrir”, refere. “Os caçadores têm melhores armas e melhores carros do que nós.”
Em algumas partes da montanha Bamo, as minas terrestres colocadas durante a guerra entre o Irão e o Iraque, nos anos 1980, pelos dois países têm afastado humanos e animais de algumas áreas onde estão leopardos, diz Nabaz. Todavia, as minas tornam o trabalho dos investigadores mais perigoso e afectam também os animais.
Implementar planos de gestão de conservação é importante para assegurar a sobrevivência dos leopardos, afirmam os ambientalistas.
De acordo com os dados do Governo Regional do Curdistão (KRG), a região perdeu quase metade da sua área florestal entre 1999 e 2018, o que levou a uma redução drástica no habitat potencial dos leopardos-da-pérsia.
Razzaq al-Khaylani, porta-voz do Conselho do Ambiente do KRG, refere que a falta de fundos públicos para a conservação e o conflito recorrente têm deixado de lado algumas iniciativas.
Desta forma, por enquanto, na montanha Bamo, os irmãos Ali estão a tentar proteger o habitat dos leopardos, envolvendo a comunidade local. Quando, em 2020, um investidor privado criou uma pedreira de calcário perto, os irmãos encabeçaram uma campanha para travar as operações. “Lugares como a montanha Bamo, se for efectivamente protegida, torna-se num sítio de acasalamento”, afirma Ahmed. “Temos de os salvar [os leopardos], eles fazem parte da nossa cultura e identidade.”