Alta velocidade espanhola arrancou há 30 anos e já está no topo do mundo

Espanha está no segundo lugar mundial dos países com maior extensão de linhas de alta velocidade.

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Tiago Lopes

Faz hoje 30 anos que foi inaugurada a primeira linha de alta velocidade espanhola, entre Madrid e Sevilha. Uma infra-estrutura de 471 quilómetros onde os comboios podiam circular a 300km/h e que marcaria o início de um plano que poria Espanha no segundo lugar mundial (logo a seguir à China) dos países com maior extensão de linhas de alta velocidade.

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Faz hoje 30 anos que foi inaugurada a primeira linha de alta velocidade espanhola, entre Madrid e Sevilha. Uma infra-estrutura de 471 quilómetros onde os comboios podiam circular a 300km/h e que marcaria o início de um plano que poria Espanha no segundo lugar mundial (logo a seguir à China) dos países com maior extensão de linhas de alta velocidade.

A opção por começar uma rede em direcção ao sul, quando a Europa está ao norte, foi então muito criticada. Mas havia um pretexto forte – a inauguração da Expo-92, a Exposição Mundial de Sevilha, cidade de onde também é oriundo o então presidente do Governo espanhol, Filipe Gonzalez.

Mas rapidamente o AVE (Alta Velocidad Española) se estendeu a Barcelona, Huesca, Valencia, Valladolid, Zamora, Málaga, ligando todas as províncias e somando hoje 3769 quilómetros de linhas de alta velocidade. Só nos últimos cinco anos abriram à exploração 529 quilómetros de linhas do AVE, 230 para completar o eixo Madrid-Galiza e 299 no Corredor Mediterrânico. Não há nenhum corredor atlântico, o eventual nome da linha de alta velocidade para Badajoz e Portugal, mas esse é um dos mais atrasados, para desespero dos autarcas e populações da Extremadura.

Nos últimos 30 anos, a Espanha multiplicou por oito o número de quilómetros de linhas de alta velocidade, ultrapassando a própria França, que, à data, era a referência europeia nesta tecnologia ferroviária.

A pressa com que foi feita a linha Madrid-Sevilha determinou também a opção espanhola pela bitola europeia (a distância entre carris é menos na Europa além-Pirenéus do que na Península Ibérica). Como não havia tempo para certificar comboios de alta velocidade em bitola ibérica e esses cálculos e testes estavam devidamente homologados em França (onde o TGV já tinha 11 anos), os espanhóis praticamente importaram “chave na mão” o projecto francês e assentaram a sua primeira linha em bitola europeia, condicionando assim o desenvolvimento da sua rede.

A alta velocidade em Espanha acabou por determinar a construção de um cluster industrial e tecnológico de grande envergadura. Se no início foi tecnologia francesa e alemã que deu cartas, rapidamente o país desenvolveu competências em todos os aspectos da indústria ferroviária, desde a sinalização à engenharia e ao material circulante (com a Talgo e a CAF à cabeça), tornando-se uma potência mundial do sector.

E tão longe foi o deslumbre pela alta velocidade, que nuestros hermanos acabaram por descurar a rede convencional, que foi sendo esquecida na manutenção e nas prioridades de investimento, admitindo hoje o Governo que muitos serviços, estações e linhas são para encerrar. Aliás, o fim do Lusitânia Expresso (comboio que ligava Lisboa a Madrid) e do Sud Expresso (Lisboa-Salamanca-Valladolid-Burgos-San Sebastian-Hendaya) foram resultado dessa política.

Os 30 anos do AVE são assinalados hoje no Real Alcázar de Sevilha, num evento com a presença do presidente do Governo, Pedro Sánchez, e da ministra dos Transportes e Mobilidade, Raquel Sánchez. Mas a alta velocidade dos comboios da Renfe contrasta com a sua política de comunicação – a 24 horas do evento, a empresa ainda não tinha divulgado o programa das comemorações.