Comboios com poucas carruagens ficaram sobrelotados no Douro durante a Páscoa

Centenas de passageiros que quiseram usufruir das paisagens do Douro tiveram de viajar de pé porque a CP não atrelou mais carruagens aos comboios.

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No total, viajaram, entre os dias 15 e 17 de Abril, cerca de 6000 passageiros. Mas acrescem os que viajaram sem pagar bilhete Anna Costa

O fim-de-semana da Páscoa já é habitualmente um período que corresponde a um pico de procura na linha do Douro e quando está bom tempo o número de passageiros dispara, mas estas duas variáveis não foram suficientes para que a CP reforçasse a sua oferta entre os dias 15 e 19 de Abril, obrigando grande parte dos seus clientes a viajar de pé.

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O fim-de-semana da Páscoa já é habitualmente um período que corresponde a um pico de procura na linha do Douro e quando está bom tempo o número de passageiros dispara, mas estas duas variáveis não foram suficientes para que a CP reforçasse a sua oferta entre os dias 15 e 19 de Abril, obrigando grande parte dos seus clientes a viajar de pé.

A empresa manteve no fim-de-semana as mesmas composições de três carruagens que costumam ligar o Porto ao Pocinho nos dias úteis e só as reforçou (e apenas com mais uma carruagem) nalguns comboios de sábado e de domingo. Perante as enchentes de passageiros que viajavam por motivos de lazer, a que se juntaram os que iam e vinham à terra no período pascal, os comboios ficaram sobrelotados, com grande repercussão nas redes sociais que ampliaram o desconforto dos viajantes e a má imagem da CP.

Situações como estas eram habituais há três anos numa altura em que a CP se debatia com uma enorme falta de material circulante e utilizava no Douro apenas as automotoras espanholas que não permitiam uma visão panorâmica sobre o rio. Mas quatro anos depois, a empresa faz gala de ter recuperado 18 carruagens Schindler e sete carruagens Sorefame que estavam encostadas e que já as colocou ao serviço para reforçar a oferta. E fê-lo anunciando que agora havia um comboio Miradouro, com carruagens antigas mas em bom estado, que ofereciam uma experiência de viagem gratificante por permitirem recrear a vista sobre a paisagem.

Contactada pelo PÚBLICO, a CP negou o problema. Respondeu que a empresa “monitoriza a procura a bordo dos seus comboios, de forma a poder ajustar a oferta à procura verificada” e que “a capacidade instalada na oferta dos comboios Miradouro tem sido suficiente para dar resposta à procura que se tem verificado”.

E apresentou factos. Disse que no fim-de-semana da Páscoa o aumento da procura só teve impacto na sexta-feira e no sábado no comboio que sai de S. Bento às 9h20 e chega ao Pocinho às 12h38. Na sexta a composição tinha capacidade para 264 lugares e a ocupação máxima registada ao longo do percurso foi de 320 passageiros e no sábado o mesmo comboio, com 316 lugares sentados, transportou “cerca de 400 passageiros”.

No total, viajaram nos comboios Miradouro, entre os dias 15 e 17 de Abril, cerca de 6.000 passageiros.

A empresa, porém, não contabilizou os passageiros que viajaram sem pagar bilhete pois, segundo relatos ouvidos pelo PÚBLICO, pelo menos em um dos comboios, as carruagens estavam tão cheias que o revisor não conseguiu fazer a revisão nem a cobrança de bilhetes a grupos que entraram em estações que não possuem bilheteiras. Uma situação confirmada por Luís Bravo, do Sindicato Ferroviário da Revisão Comercial e Itinerante (SFCR), que diz já não ser a primeira vez que isto acontece, acusando a CP de “défice de organização” por possuir carruagens estacionadas e não as colocar ao serviço.

“A vantagem dos comboios com máquinas e carruagens sobre as automotoras [que são indeformáveis] é que se pode acrescentar sempre mais uma. Mas desta vez alguém não se preocupou com o aumento de passageiros na Páscoa”. Luís Bravo entende que isto “é o resultado de termos um conselho de administração mais vocacionado para a área oficinal e de engenharia”.

O sindicalista alerta ainda que “nos fins-de-semana viajam muito grupos e para lá vai tudo muito bem, mas no regresso, depois de almoço, alguns já vêm um bocado tortos e perdem o controlo” pelo que seria útil reforçar os comboios com mais um revisor, além de uma presença discreta mas dissuasora, da GNR em algumas estações à passagem dos comboios.

Fonte oficial da CP diz que a empresa “procura providenciar as melhores condições de conforto aos seus clientes, pelo que, atenta esta evolução na linha do Douro, vai reforçar os comboios já a partir do próximo fim-de-semana”.

No passado domingo, também o comboio inter-regional que liga directamente a Figueira da Foz a Valença esteve sobrelotado, obrigando até a uma prolongada paragem em Barcelos porque os passageiros não conseguiam entrar. A CP manteve nesse dia a composição habitual que é de apenas duas carruagens.