Os primeiros segundos de Os Filhos, texto de Lucy Kirkwood – uma das mais estimulantes vozes dramatúrgicas britânicas de hoje –, puxa de imediato o tapete em relação às expectativas. Rose (Custódia Gallego) está imóvel, a sangrar do nariz, de olhar perdido. Imagina-se o pior. Mas a primeira fala, quando ainda está sozinha a ocupar a sala daquela pequena casa de campo, de onde se consegue ouvir o mar, aponta em sentido inverso, para uma despreocupada conversa de circunstância: “Como estão os teus filhos?”, pergunta. E só depois, a conta-gotas, Kirkwood nos vai permitindo perceber que Rose e Hazel (Maria José Pascoal) não se vêem há 38 anos, que trabalharam juntas numa central nuclear, que houve um acidente na central e que Hazel e o marido Robin (João Lagarto) se afastaram apenas o mínimo possível da zona com índices de radiação mais elevados, que Robin ainda regressa diariamente para cuidar da propriedade onde antes vivia com Hazel e que recomendaria a cautela que aquela não fosse visitada.
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Os primeiros segundos de Os Filhos, texto de Lucy Kirkwood – uma das mais estimulantes vozes dramatúrgicas britânicas de hoje –, puxa de imediato o tapete em relação às expectativas. Rose (Custódia Gallego) está imóvel, a sangrar do nariz, de olhar perdido. Imagina-se o pior. Mas a primeira fala, quando ainda está sozinha a ocupar a sala daquela pequena casa de campo, de onde se consegue ouvir o mar, aponta em sentido inverso, para uma despreocupada conversa de circunstância: “Como estão os teus filhos?”, pergunta. E só depois, a conta-gotas, Kirkwood nos vai permitindo perceber que Rose e Hazel (Maria José Pascoal) não se vêem há 38 anos, que trabalharam juntas numa central nuclear, que houve um acidente na central e que Hazel e o marido Robin (João Lagarto) se afastaram apenas o mínimo possível da zona com índices de radiação mais elevados, que Robin ainda regressa diariamente para cuidar da propriedade onde antes vivia com Hazel e que recomendaria a cautela que aquela não fosse visitada.