Semelhança entre lua de Júpiter e Gronelândia indica que o planeta pode sustentar vida

As semelhanças entre uma das luas geladas de Júpiter, a Europa, e um relevo na Gronelândia dão azo à hipótese de que a superfície gelada da lua Europa pode esconder um oceano com o dobro do tamanho de toda a água existente na terra

Foto
Imagem tirada à lua Europa pela nave espacial Galileu em 1990 NASA/JPL-Caltech/SETI Institute

A estranha semelhança entre as características da superfície gelada de Europa - uma das luas de Júpiter - e o relevo de um considerável lençol de água na Gronelândia dão novas indicações de que esta lua de Júpiter poderá ter condições para abrigar vida.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A estranha semelhança entre as características da superfície gelada de Europa - uma das luas de Júpiter - e o relevo de um considerável lençol de água na Gronelândia dão novas indicações de que esta lua de Júpiter poderá ter condições para abrigar vida.

Um estudo publicado esta terça-feira na Nature Communications explora as parecenças entre estas formas de relevo alongado, chamadas de cumes duplos, que parecem enormes cortes na superfície de Europa e uma versão menor na Gronelândia, examinada através de um radar de penetração no gelo.

Os cumes duplos são lineares, com dois picos e uma zona central entre eles. “Se cortar um dos cumes e olhar para a secção transversal, pareceria um pouco como um “M”, diz Riley Culberg, geofísico da Universidade de Stanford e primeiro autor do estudo agora publicado.

Os dados do radar mostram que o recongelamento da água subsuperficial conduziu à formação do duplo cume da Gronelândia. Se o duplo cume da lua Europa se formou da mesma forma, isto pode significar a presença de enormes quantidades de água líquida - um ingrediente chave para a existência de vida - junto da superfície da espessa camada de gelo desta lua.

Na busca por vida extraterrestre, a lua Europa tem atraído atenções por ser um dos locais no nosso sistema solar que poderá ser habitável, porventura por micróbios, devido ao oceano salgado detectado no fundo da sua superfície gelada. Inúmeros lençóis de água junto à superfície podem representar um potencial segundo habitat para organismos. A vida terra emergiu, primeiro, através de micróbios marinhos.

“A presença de água líquida debaixo da superfície de gelo sugere que a troca entre oceano e camada de gelo é comum, o que pode ser importante para o ciclo químico que ajuda a sustentar a vida”, explica Culberg. “Águas rasas em particular também significam que poderão existir alvos mais fáceis para futuras missões espaciais de imagens ou amostrar que possam preservar evidência de vida sem precisar de ter completo acesso ao fundo do oceano.”

A pouca profundeza dos potenciais lençóis de água da lua Europa - talvez a cerca de um quilómetro da superfície - também permitiria a presença de químicos vitais na formação de vida e que poderão existir na superfície.

Com um diâmetro de mais de três mil quilómetros, a Europa é a quarta maior lua de Júpiter, um pouco mais terra que a lua da Terra, mas maior que o planeta-anão, Plutão. O oceano da lua Europa pode conter o dobro da água existente na terra. A missão Europa Clipper, da NASA, está agendada para 2024, com o intuito de investigar se esta lua tem condições favoráveis à existência de vida.

Os cientistas têm debatido como se formaram os duplos cumes no centro deste trabalho. Culberg ficou impressionado com a semelhança com um relevo que ele conhecia do noroeste da Gronelândia. “O duplo cume da Gronelândia foi formado a partir do sucessivo recongelamento, pressurização e fractura de um lençol de água perto da superfície. Nós vemos dois cumes, em vez de um, porque o lençol de água também foi dividido em dois por uma fractura - preenchida depois com água recongelada”, explica o investigador.