Paulo Scott é o convidado do Encontro de Leituras de Maio
O escritor brasileiro participa no clube de leitura do PÚBLICO e da Folha de São Paulo com o romance Marrom e Amarelo.
O escritor brasileiro Paulo Scott, que nasceu em Porto Alegre, no Brasil, mas vive em São Paulo, autor do romance Marrom e Amarelo, é o convidado do próximo Encontro de Leituras. Não se considera um escritor político, o que sempre quer é contar boas histórias.
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O escritor brasileiro Paulo Scott, que nasceu em Porto Alegre, no Brasil, mas vive em São Paulo, autor do romance Marrom e Amarelo, é o convidado do próximo Encontro de Leituras. Não se considera um escritor político, o que sempre quer é contar boas histórias.
Esta sessão do clube de leitura do PÚBLICO e da Folha de S. Paulo acontece a 10 de Maio, às 22h de Lisboa (18h de Brasília) e acontecerá no Zoom, como habitualmente, aberta a todos os que queiram participar. A ID é a 863 4569 9958 e a senha de acesso 553074. Aqui fica o link.
Publicado no Brasil pela Alfaguara, em 2019, e em Portugal no ano seguinte pela Tinta da China, que já tinha publicado um outro romance do autor (Habitante Irreal, em 2014); Marrom e Amarelo chegou este ano, na tradução para língua inglesa, à lista de semifinalistas do International Booker Prize.
É um romance que se passa em dois tempos, 1984 e 2016, e conta-nos a história de dois irmãos, Federico e Lourenço, que têm a mesma mãe e o mesmo pai, mas não têm a mesma cor de pele. Um é mais claro do que o outro e cresceram, nos subúrbios de Porto Alegre, a sentir a pressão da discriminação racial e actuando de formas diferentes. Como se vê por este excerto: “Lourenço conferiu as fotos e me falou Tu sempre insiste em não usar flash, Derico, Mas tem que usar flash comigo, senão quando tá assim meio escuro eu não apareço direito, Disse aquilo com uma tranquilidade cortante, Balancei a cabeça, mostrei que tinha entendido, No início do show, avisei que ia pegar duas cervejas pra nós, saí da pista, mas não fui até o balcão, fui até o banheiro, entrei num dos boxes das privadas, fechei a porta e chorei, chorei como não chorava há um tempão, Você entende, perguntei, Sou tão orgulhoso e envaidecido de ser o irmão mais velho, De ser o protetor, Mas, droga, levei anos, décadas pra perceber aquele detalhe tão óbvio e tão importante, Imagina o resto, falei.”
A primeira parte do livro aborda a questão das quotas raciais e da classificação racial e as polémicas que nasceram a partir daí. “Os brasileiros não se enxergam; não se enxergam nem querem se enxergar, têm medo de se olhar no espelho e se reconhecer como país negro, indígena”, disse Paulo Scott, numa entrevista ao PÚBLICO, em 2020.
Formado em Direito, já publicou romances, contos, poesia e teatro. Foi advogado, militante do PT, produtor cultural e professor de Direito Tributário na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Descendente de uma família de mulheres escravizadas, Paulo Scott é um homem negro, com pele clara.
”Eu tinha cabelo castanho claro e liso quando criança. Sempre tive essa cor caramelo claro. É por isso que meu pai me chama de amarelo, e meu irmão, de marrom. Meu avô, de sangue italiano, indígena e negro também, tinha um modo muito cruel de replicar o racismo. Os primos de pele mais clara eram bastante cruéis com os de pele mais retinta — curiosamente, o de pele mais retinta de todos era o meu irmão. Eu já sentia o racismo, mas foi na escola que compreendi o que é ser um homem negro e que tinha que me posicionar. Na universidade, me tornei um banner contra o racismo”, contou à Folha de São Paulo no início deste mês. Por isso, como disse há dois anos ao PÚBLICO, o romance é “um pouco” autobiográfico. “Só que aquela família não é a minha família, e isto não é uma auto-ficção. Parto de uma verdade que conheço para criar uma narrativa”, afirmou. “Ao contrário do protagonista, sempre fui mais convicto da minha identidade e nunca me afastei da realidade do meu bairro”.
Tal como acontecia com O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório, que já foi nosso convidado, também o pano de fundo deste romance é a questão da linguagem. “As pessoas têm dificuldade de se afirmarem negras porque, quando você é estigmatizado, começa a acreditar que ser preto é um problema, um erro, um pecado. A gente se acomodou na ilusão de que chegamos a um equilíbrio”, disse o escritor gaúcho recentemente à Folha de São Paulo.
O Encontro de Leituras junta leitores de língua portuguesa uma vez por mês e discute romances, ensaios, memórias, literatura de viagem e obras de jornalismo literário, na presença de um escritor, editor ou especialista convidado. É moderado pela jornalista Isabel Coutinho, responsável pelo site do PÚBLICO dedicado aos livros, o Leituras, e pelo jornalista da Folha de S. Paulo Eduardo Sombini, apresentador do Ilustríssima Conversa, podcast de livros de não-ficção.