O poder da criatividade: “Aqui o cérebro vai até às mãos”
A imaginação não tem fronteiras, mas o poder impõe balizas. O PSuperior colocou académicos, alunos e profissionais de artes, na Universidade do Algarve, a discutir os horizontes do futuro.
Por trás de um instrumento, há sempre um artista - mais ou menos conhecido - que é capaz de comunicar de forma imaginativa com o público. O acto criativo é muito mais do que sons para os nossos ouvidos ou imagens num écrã. Das universidades às empresas, a criatividade é vista, cada vez mais, como força motriz da inovação tecnológica, da dinâmica económica e do progresso social.
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Por trás de um instrumento, há sempre um artista - mais ou menos conhecido - que é capaz de comunicar de forma imaginativa com o público. O acto criativo é muito mais do que sons para os nossos ouvidos ou imagens num écrã. Das universidades às empresas, a criatividade é vista, cada vez mais, como força motriz da inovação tecnológica, da dinâmica económica e do progresso social.
“O poder da criatividade. De onde vem, como se estimula? A pergunta foi tema para um debate na Universidade do Algarve (Ualg), por iniciativa do PSuperior, juntando cinco convidados, convergindo para um mesmo ponto, com olhares diferentes. A conversa, moderada pelo director adjunto do PÚBLICO, David Pontes, terminou com uma conclusão: “Somos bons a improvisar.”
A directora do curso de Imagem Animada da Ualg, Marina Estela Graça, revelou que incentiva os alunos a meterem as mãos na massa - isto é, estimula o conhecimento prático. “Aqui, o cérebro vai até às mãos”, disse. Muitos estudantes do 1.º ano, exemplificou, chegam sem nunca terem tido contacto com o mundo da animação. “É como se um aluno de piano nunca tivesse visto o instrumento”.
A finalista de curso Marta Ribeiro (co-autora da premiada curta-metragem de animação “Ímpar”) sublinhou: “As ideias surgem-me de diferentes formas, com o que se aprende nas aulas, mas também através de tudo o que me rodeia.” David Pontes observou: “Quando me perguntam que conselho daria a um jovem jornalista, costumo dizer ‘tenha um olhar crítico sobre o mundo'”. A partir desse ângulo plural, prosseguiu Sónia Matos, “desenvolve-se o processo de informação”. Para conceber uma primeira página de jornal, lembrou a directora de Arte do PÚBLICO, não basta um clique como quando se liga um interruptor de electricidade. “Temos de construir uma biblioteca ou base de dados” que se vai formando ao longo da vida. “Ser criativo só pelo pensamento não chega”, enfatizou.
Do lado das agências de publicidade esteve João Madeira da Silva (co-CEO da Fuel). “Nós trabalhamos para uma voz que não é nossa - é a voz da marca”, começou por explicar. Porém, para atingir os objectivos do cliente é preciso encontrar formas inovadoras de comunicar.
Sónia Matos lembrou os desafios a que estão sujeitos estes profissionais. “Toda a gente espera de nós uma solução que ninguém pensou antes”, afirmou. No mesmo sentido, João Madeira invocou as campanhas de Natal onde a imaginação dos publicitários é posta à prova, com uma história contada vezes sem conta. E por isso a produtora cultural, Fúlvia Almeida (ex-jornalista) acrescentou: “Ser criativo não é obra do Espírito Santo.” O processo envolve inspiração, mas também muita transpiração.
“Para surpreender, temos de dominar profundamente as linguagens e os processos criativos”, exemplificou, por seu turno, a professora da Ualg. O reitor Paulo Águas foi mais abrangente: “Eu, que não sou desta área, sei que a criatividade está em todo o lado.” Fúlvia Almeida, antiga aluna da Ualg, agarrou na deixa e exemplificou: “Até nas idas ao café está criatividade, se olharmos para aquilo que nos rodeia, o nosso mundo.”
E é também por isso que o sucesso de uma campanha de publicidade está, muitas das vezes, nos detalhes da comunicação como salientou João Madeira. Em vez de ser dizer que este é um dos dez melhores restaurantes, bastará dizer coisas tão simples como: “Um restaurante pelo qual vale a pena fazer um desvio.”
Em jeito de nota de rodapé, reconheceria: “Os portugueses, no geral, mostram grande capacidade a improvisar, no desenrascanço.” Os magros orçamentos e algum receio de falhar, admitiu, leva a que os seus méritos não sejam tão reconhecidos em Portugal, como acontece quando vão para o estrangeiro. Seja de que maneira for, para Fúlvia Almeida “concretizar uma ideia é algo que não tem preço”. Sónia Matos rematou: “E é isso que perdura.”