Covid-19. O que se passa em Xangai, onde mais de 25 milhões estão confinados?
Um novo surto da doença numa das maiores cidades do país tornou-se num grande teste à estratégia de tolerância zero da China. Muitos moradores ficaram sem acesso a comida e necessidades diárias, face ao encerramento de supermercados e farmácias.
A estratégia do Governo da China para conter a covid-19 não mudou muito em mais de dois anos de pandemia: é a chamada “tolerância zero” à doença, que inclui o isolamento de todos os casos positivos e o confinamento de cidades inteiras com milhões de habitantes.
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A estratégia do Governo da China para conter a covid-19 não mudou muito em mais de dois anos de pandemia: é a chamada “tolerância zero” à doença, que inclui o isolamento de todos os casos positivos e o confinamento de cidades inteiras com milhões de habitantes.
No início deste mês, pelo menos 38 mil funcionários foram enviados para Xangai no que os media estatais descreveram como a maior operação médica nacional desde o confinamento em Wuhan, no início de 2020, após o primeiro surto conhecido de coronavírus.
Este novo surto da doença numa das maiores cidades do país tornou-se num grande teste à estratégia de tolerância zero da China, criticada por muitos.
O que se passa em Xangai?
No início de Abril, as autoridades chinesas puseram 26 milhões de pessoas em quarentena na cidade, depois de terem registado mais de 13 mil testes positivos à covid-19, no meio de uma crescente contestação pública sobre as regras de quarentena.
Nesta segunda-feira, as autoridades relataram as primeiras mortes por covid-19 do mais recente surto na cidade, que continua sob confinamento. Todos os três infectados que morreram eram idosos e tinham doenças subjacentes, como diabetes e hipertensão, e não estavam vacinados contra o coronavírus, disse Wu Ganiu, da Comissão de Saúde da cidade, durante uma conferência de imprensa.
Quantos casos foram registados nos últimos dias?
A China anunciou que 23.362 pessoas tiveram um teste positivo nas últimas 24 horas, a maioria assintomáticos e quase todos em Xangai. A cidade registou mais de 300 mil casos desde o final de Março. No sábado, o país registou 26.155 novos casos – 3529 infecções sintomáticas e 22.626 assintomáticas. Com as três mortes registadas este domingo, o número total de vítimas desde o início da pandemia sobe para 4641.
Porque está a estratégia das autoridades de Xangai a ser criticada?
Xangai, a “capital” financeira da China e sede do porto mais movimentado do mundo, não estava preparada para conter um surto tão grande.
A política de quarentena da cidade foi criticada por separar as crianças dos pais e colocar os casos assintomáticos entre aqueles com sintomas. Alguns especialistas em saúde pública dizem que não é uma estratégia eficaz. “Não acho que seja uma boa ideia, já que, mais de 24 meses após a pandemia, sabemos muito mais”, disse à Lusa Jaya Dantas, professora de saúde internacional da Universidade Curtin, na Austrália, acrescentando que as estratégias “intensivas em recursos” da China para combate à covid-19 precisam de ser revistas.
Os moradores ficaram sem acesso a comida e necessidades diárias, face ao encerramento de supermercados e farmácias, e dezenas de milhares de pessoas foram colocadas em centros de quarentena, onde as luzes estão sempre acesas, o lixo se acumula e não existem chuveiros com água quente.
Qualquer pessoa com resultado positivo, mas que não tenha sintomas, deve passar uma semana numa destas instalações. Embora o Partido Comunista Chinês tenha pedido medidas de prevenção mais direccionadas, as autoridades locais continuam a adoptar medidas rigorosas.
Além disso, o novo confinamento tem causado problemas entre vizinhos. Algumas pessoas foram impedidas de entrar em casa e obrigadas a permanecer em hotéis mesmo depois de terem alta dos centros de quarentena.
Uma residente estrangeira que teve um teste positivo à covid-19 conta à Reuters que teve de ficar confinada no seu apartamento em vez de ser reencaminhada para um destes centros, algo que causou “uma grande desgosto aos vizinhos”. A moradora conta que lhe pediram que saísse do prédio, tentaram excluí-la dos pedidos de compras em grupo (prática comum quando há um confinamento na China) e até exigiram que apresentasse um pedido formal de desculpas.
Os moradores frustrados de Xangai têm utilizado as redes sociais para criticar a actuação das autoridades locais, que acusam de dificultar o abastecimento de alimentos, de separar famílias e de não criar boas condições de habitabilidade nos centros de quarentena. E algumas destas frustrações resultaram em protestos públicos ou confrontos com a polícia.
Já há uma data para o fim do confinamento?
Sim. As autoridades de Xangai estabeleceram esta quarta-feira como meta para impedir a propagação da covid-19 fora dos centros de quarentena, disseram duas pessoas familiarizadas com o assunto à agência Reuters.
A meta exigirá que as autoridades acelerem a testagem à covid-19 e a transferência de casos positivos para estes centros, mas permitirá um regresso, ainda que lento, à normalidade. Parar a transmissão a nível comunitário tem sido um ponto de viragem para outras regiões chinesas que estiveram em confinamento. Exemplo disso é a cidade de Shenzhen, que em Março permitiu a reabertura dos transportes públicos e que as empresas voltassem ao trabalho presencial pouco depois de atingir esta meta.