A resistência ucraniana em Mariupol faz-se na siderúrgica Azovstal

A dimensão e a complexidade dos túneis subterrâneos deste complexo metalúrgico está a causar dificuldades às tropas russas, que dizem já ter assumido o controlo da parte urbana da cidade. No sábado, Moscovo fez-lhes um ultimato, mas os militares não terão cedido.

Foto
A siderúrgica Azovstal é uma das maiores da Europa, estendendo-se por mais de onze quilómetros quadrados Reuters/MAXAR TECHNOLOGIES

As forças russas dizem que estão à beira de assumir o controlo total da cidade de Mariupol, havendo apenas um local que continua a oferecer resistência: as tropas ucranianas estarão concentradas na siderúrgica Azovstal, que se situa numa zona industrial perto do Mar de Azov e é uma das maiores da Europa, estendendo-se por mais de onze quilómetros quadrados.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

As forças russas dizem que estão à beira de assumir o controlo total da cidade de Mariupol, havendo apenas um local que continua a oferecer resistência: as tropas ucranianas estarão concentradas na siderúrgica Azovstal, que se situa numa zona industrial perto do Mar de Azov e é uma das maiores da Europa, estendendo-se por mais de onze quilómetros quadrados.

É precisamente a sua grande dimensão e a complexidade dos túneis subterrâneos em que está assente que estão a causar dificuldades às tropas russas, que dizem já ter ocupado a parte urbana da cidade, como explica à Reuters um analista militar sediado em Kiev. “A fábrica de Azovstal é um espaço tão grande e com tantos edifícios que os russos simplesmente não conseguem encontrar [as forças ucranianas]”, sublinha Oleh Zhdanov, acrescentando que “é por isso que eles [os russos] começaram a falar em tentar um ataque químico, por ser é a única forma de os tirar dali”.

Os militares que ali estão pertencem em grande parte ao polémico Batalhão Azov, considerada uma das unidades com maiores capacidades da Ucrânia, embora um pequeno grupo também faça parte da 36ª Brigada Marítima, depois de alguns terem conseguido fugir das fábricas de Azovmash e Zavod Ilyicha no início desta semana, quando viram que os seus mantimentos e munições estavam a escassear, de acordo com a Associated Press.

Em tempos normais, a siderúrgica Azovstal produz cerca de 4 milhões de toneladas de aço por ano. Pertence, tal como a Illich Steel and Iron Works, uma outra fábrica da cidade, à empresa Metinvest, propriedade do homem mais rico da Ucrânia, Rinat Akhmetov — que no sábado prometeu ajudar a reconstruir a cidade de Mariupol.

Fotogaleria

Um comandante das forças separatistas disse na televisão russa na segunda-feira que as forças ucranianas se tinham refugiado no complexo, que funciona como “uma fortaleza” dentro da cidade. Contudo, o analista militar ouvido pela Reuters avisa que é difícil prever quantas provisões terão e durante quanto tempo é que conseguirão manter esta posição de defesa. “Eles não têm outra saída, estão cercados por todos os lados, se cederem, não serão poupados”, apontou.

O silêncio como resposta ao ultimato russo

A Rússia lançou um ultimato no sábado à noite, dizendo que se estes militares se rendessem até às 6h de Moscovo (4h em Portugal continental) deste domingo as suas vidas seriam poupadas. “Todos os que depuserem as suas armas terão garantidamente as suas vidas poupadas”, anunciou o Ministério da Defesa da Rússia, precisando que os militares ucranianos poderiam sair da fábrica até às dez da manhã, sem armas nem munições.

Mas a janela fechou sem que houvesse notícias do lado de Kiev. Ao portal noticiário Ukrainska Pravda, Volodimir Zelensky reconheceu que os militares ucranianos “estão bloqueados” na cidade portuária, bem como os feridos. “Há uma crise humanitária... ainda assim, os rapazes estão a defender-se”, sublinhou.

Também no seu discurso à nação de sábado à noite realçou que as condições em Mariupol eram “desumanas”, cita o New York Times. Zelenskyi voltou a pedir ajuda militar e disse estar aberto a avançar com negociações: “militares ou diplomáticas - tudo para salvar pessoas”, afirmou.​

Caso as forças russas tomem Mariupol, onde ainda se encontram cerca de 120 mil civis, esta será a primeira grande cidade a passar para as mãos de Moscovo desde o início da invasão e permitirá a Moscovo estabelecer um corredor terrestre entre a cidade portuária e a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014.

Segundo a Reuters, um assistente do presidente da câmara de Mariupol revelou na quarta-feira que a Rússia planeia celebrar a vitória na cidade a 9 de Maio, dia em que Moscovo costuma relembrar todos os anos a Segunda Guerra Mundial e a sua vitória sobre os alemães com um desfile na Praça Vermelha.