Dois terços dos partos nos hospitais privados são feitos por cesariana

Recurso a esta técnica tem vindo a aumentar e é 30 pontos percentuais mais comum nas clínicas do que nos hospitais.

Foto
Recurso a cesarianas tem vindo a aumentar em todas as unidades de saúde Adriano Miranda

Dois terços dos partos em hospitais privados foram feitos por cesariana, em 2020, revelam as Estatísticas da Saúde, divulgadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). O recurso a esta técnica tem vindo a aumentar em todas as unidades de saúde, contrariando as recomendações internacionais, mas é bem menos comum nos hospitais públicos, onde representa 30% do total de nascimentos.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Dois terços dos partos em hospitais privados foram feitos por cesariana, em 2020, revelam as Estatísticas da Saúde, divulgadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). O recurso a esta técnica tem vindo a aumentar em todas as unidades de saúde, contrariando as recomendações internacionais, mas é bem menos comum nos hospitais públicos, onde representa 30% do total de nascimentos.

Segundo o relatório do INE noticiado este sábado pelo Jornal de Notícias – cujos números mais recentes dizem respeito a 2020 – foram realizados 14 mil partos no sector privado e, em 67% desses, houve recurso à cesariana. Nos hospitais públicos há muito mais nascimentos (63 mil) e só em 30% é utilizada essa técnica.

A proporção de cesarianas realizadas em hospitais privados é maior do que nos hospitais públicos em todo o país, mas é especialmente elevada nas regiões Norte (85%), Centro (85%) e no Algarve (82%). É na Área Metropolitana de Lisboa que são realizados mais partos (31.039 em 2020, de acordo com o relatório do INE). Mas nesta região, os privados só recorrem à cesariana em 56% dos nascimentos.

O uso desta técnica tem vindo a aumentar. De 2017 para 2020, os partos por cesariana aumentaram 23% no sector privado – ao passo que no público aumentaram 8%, segundo dados do JN.

Esta é uma tendência que tem sido notada nos últimos anos e para a qual já apontavam estatísticas da Administração Central do Sistema de Saúde conhecidas no início do ano passado. “É uma péssima medicina, péssima ética, um indicador terceiro-mundista, uma vergonha que desacredita profissionais de saúde”, defende Miguel Oliveira da Silva, ex-presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida e professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, no seu último livro Quem Está Contra a Medicina.

Os especialistas consideram que uma percentagem de cesarianas abaixo de 30% é o aceitável. Desde 2013, a Comissão Nacional para a Redução da Taxa de Cesarianas, levou a cabo uma campanha, que criou material informativo para profissionais de saúde e para a população e propôs a modificação do modelo de financiamento para as cesarianas no SNS, equiparando os valores pagos por partos normais e penalizando financeiramente as unidades com taxas mais elevadas. A Direcção-Geral da Saúde (DGS) elaborou entretanto várias normas e a Ordem dos Médicos (OM) também fez recomendações neste sentido.

Portugal estava entre os dez países da OCDE com uma taxa de cesarianas mais elevada, segundo o relatório Health at a Glance 2019, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Na altura, o país fazia 32,5% dos partos por cesariana, ao passo que a média dos países parceiros estava nos 28%.