Quando Eunice Muñoz abandonou o teatro e se tornou empregada de balcão
“O que sei é que nessa altura já estava muito cansada. Tinha muitos anos de profissão, apesar de ter só 23 anos”, contou numa entrevista em 2011.
Tinha 23 anos, mas muitos anos de profissão e sentiu que precisava de parar. Foi a primeira das várias pausas que Eunice Muñoz fez ao longo da sua longa carreira: aos cinco anos já subia ao palco do teatro desmontável e ambulante dos pais. Quando resolveu deixar o teatro foi trabalhar para uma loja no Príncipe Real, onde se tornou ela própria atracção turística.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Tinha 23 anos, mas muitos anos de profissão e sentiu que precisava de parar. Foi a primeira das várias pausas que Eunice Muñoz fez ao longo da sua longa carreira: aos cinco anos já subia ao palco do teatro desmontável e ambulante dos pais. Quando resolveu deixar o teatro foi trabalhar para uma loja no Príncipe Real, onde se tornou ela própria atracção turística.
“O que sei é que nessa altura já estava muito cansada. Tinha muitos anos de profissão, apesar de ter só 23 anos. Já era profissional há dez anos, já tinha protagonizado peças. Resolvi deixar o teatro e fui trabalhar para um balcão de uma loja”, recordou numa entrevista ao PÚBLICO em 2011, realizada por Tiago Bartolomeu Costa.
Já casada, e com uma filha, foi ganhar “800 escudos ou um conto de réis” na casa das cortiças e as pessoas faziam fila para a ver ao balcão.
O patrão, Mr. Cork, sabia quem ela era e “achava muita graça”. “Achava que era um disparate, queria sempre convencer-me a não fazer nada.”
Não chegou a estar um ano ao balcão, depois foi para a fábrica Celcat, onde secretariou o director técnico e conheceu o segundo marido, com quem teve três filhos. Esteve quatro anos na Celcat, até que Vasco Morgado a convenceu a regressar para fazer a Joana d'Arc, de Jean Anouilh.
Mas parar não foi um capricho, dizia. “Era o interesse de conhecer outras pessoas, outro mundo, outras profissões, outros sonhos. Ali tinha o operariado e tinha os desenhadores. E foi muito bom conhecê-los, saber e sentir quais eram os interesses deles.”
Quanto ao dinheiro, conta que a sua atitude não mudou. “É engraçado... Quando estava a fazer cinema, ou teatro, recebia o meu dinheiro, punha-o na gaveta da cómoda do meu quarto e pronto. Não estava ali presa a nada. E a minha mãe dizia-me: ‘Pois, pois, pois. É porque estás a ganhar muito bem. Um dia estás a ganhar pouco, e vais ver.’ E eu achei muita graça, porque, quando estava a ganhar 800 escudos ou um conto de réis no balcão da casa das cortiças, tratava o dinheiro da mesma maneira.”