Há “indícios” de que padres suspeitos de abusos de menores ainda estejam em funções
Membro da comissão que estuda os abusos sexuais na Igreja Católica diz que, a partir dos testemunhos recolhidos, existem “indícios de que estas situações aconteceram e acontecem”. Investigação cabe ao Ministério Público.
Alguns dos padres suspeitos de terem abusado de menores na Igreja Católica poderão ainda estar no activo. A notícia foi avançada pelo Expresso esta quinta-feira, que diz ter recebido informações de uma fonte judicial. Contactada pelo PÚBLICO, a socióloga Ana Nunes de Almeida, membro da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja (CIEAMI), refere só que “existem apenas indícios de que situações dessas tenham acontecido” mantendo-se os padres em funções.
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Alguns dos padres suspeitos de terem abusado de menores na Igreja Católica poderão ainda estar no activo. A notícia foi avançada pelo Expresso esta quinta-feira, que diz ter recebido informações de uma fonte judicial. Contactada pelo PÚBLICO, a socióloga Ana Nunes de Almeida, membro da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja (CIEAMI), refere só que “existem apenas indícios de que situações dessas tenham acontecido” mantendo-se os padres em funções.
“Se estão no activo e se os casos foram para o Ministério Público (MP), cabe ao MP averiguar”, frisa Ana Nunes de Almeida. “A comissão não faz denúncias nem acusações, está a fazer um estudo.”
De acordo com o mesmo jornal, haverá padres que terão abusado de menores e que continuam a exercer funções. Por outro lado, esses religiosos podem ter sido ajudados a encobrir os alegados crimes pela hierarquia da Igreja, cujos membros, por sua vez, também ainda estão no activo, tal como foi referido durante a conferência de imprensa para balanço dos três meses de trabalho da CIEAMI, que decorreu na terça-feira em Lisboa.
Questionado pelos jornalistas sobre se existiram casos de encobrimento e ocultação de abusos sexuais de menores, Pedro Strecht confirmou que há, mais uma vez, “indícios” de que tenha existido essa tentativa por parte da hierarquia da Igreja, incluindo bispos ainda no activo. “Temos referência a bispos anteriores e bispos no activo”, disse. Mas a “prática [de abusos por parte de bispos] não” foi identificada, sublinhou.
Este é, aliás, um ponto que Ana Nunes de Almeida sublinha ao PÚBLICO: “sim, há indícios”. “Contudo, não temos comprovação, não nos cabe a nós comprovar o que quer que seja. A partir dos nossos testemunhos, temos indícios de que estas situações aconteceram e acontecem.”
A socióloga ressalva ainda que apenas “uma minoria” das vítimas é que revela os nomes dos agressores, algo que dificulta a identificação do alegado abusador.
Dos casos de denúncia validados pela CIEAMI, 16 que ainda não prescreveram foram encaminhados para o Ministério Público. Na conferência de imprensa, o juiz jubilado Álvaro Laborinho Lúcio, que também integra a comissão, deu nota de que devido ao sigilo e ao anonimato dos testemunhos, aquilo que é enviado para o MP é “muito pouco palpável” e, por outro lado, “a falta de datas exactas” dificulta o processo de avaliação de prescrição (ou não) dos casos.
A comissão independente comunicou na terça-feira que 290 depoimentos já foram validados em três meses de trabalho e que essa realidade deverá ser ainda maior. As vítimas são sobretudo homens, tal como os agressores, na sua maioria religiosos.