Alterações climáticas: as promessas são para ser compreendidas

A resposta que ninguém quer ver passa por reduzir drasticamente a quantidade absurda de animais que comemos. É incómodo? Sim, mas abram os olhos: a agropecuária, tal como a conhecemos, não é sustentável, não é saudável, e não, não é ética.

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Seria injusto acusar os decisores políticos de não darem a devida importância às alterações climáticas, bem como à urgência de actuar. Afinal, não há discurso que deixe de fora temas como a transição energética, a neutralidade carbónica, a seca, ou as metas do Acordo de Paris e da COP em Glasgow, no final de 2021.

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Seria injusto acusar os decisores políticos de não darem a devida importância às alterações climáticas, bem como à urgência de actuar. Afinal, não há discurso que deixe de fora temas como a transição energética, a neutralidade carbónica, a seca, ou as metas do Acordo de Paris e da COP em Glasgow, no final de 2021.

Na tomada de posse do XXII Governo Constitucional, em 2019, António Costa fez questão de nos “recordar o compromisso fundamental de responder a quatro grandes desafios estratégicos que se nos apresentam, a começar no das alterações climáticas”. Mais relembra que “Portugal foi o primeiro país, logo em 2016 [após a COP 21, da qual saiu o Acordo de Paris], a comprometer-se com o objectivo de sermos neutros em emissões de gases com efeito de estufa [GEE] em 2050”. Por último, diz que “fomos também o primeiro país a aprovar um Roteiro para a Neutralidade Carbónica”.

Longe de querer negar a relevância destas intenções, gostaria de alertar o senhor primeiro-ministro para o real impacto destas nobres medidas.

É sabido que a queima de combustíveis fósseis é responsável pela emissão de uma elevada quantidade de GEE para a atmosfera. É também amplamente divulgado que a redução progressiva da utilização dos mesmos é obrigatória, se quisermos cumprir com o Acordo da Paris e evitar – ou minimizar – o cenário catastrófico que apresenta.

Tudo certo.

Mas gostava também de saber quais as medidas em vigor para reduzir o consumo de animais para alimentação. Pode parecer despropositado, portanto passo a explicar.

Segundo um artigo partilhado na revista Science, adoptar uma dieta que exclui produtos de origem animal pouparia a emissão de 6,6 mil milhões de toneladas de equivalente em dióxido de carbono (CO2eq), o que representa uma redução de 49%, valor significativamente mais elevado do que o de qualquer outro sector. O mesmo estudo diz que a exclusão de produtos de origem animal pode reduzir a terra utilizada em 76%, informação que pode, à partida, parecer irrelevante quando se fala da emissão de GEE. Na realidade, tal destruição não só agrava valores relativos à biodiversidade como é indirectamente responsável pelo aumento da concentração de GEE na atmosfera. Caminhar para a exclusão de produtos de origem animal poderia traduzir-se na captura de 8,1 mil milhões de toneladas de CO2eq por ano, simplesmente por permitir que campos actualmente utilizados para a produção agropecuária recuperassem naturalmente.

Pergunto, portanto, o que está a ser feito para resolver este problema? Agora que é moda e parece bem, todo o mundo quer deixar os combustíveis fósseis e passar às energias ditas “limpas” ou “verdes”. Certíssimo. Não é, no entanto, a solução mais fácil ou a mais eficaz. A resposta que ninguém quer ver passa por reduzir drasticamente a quantidade absurda de animais que comemos. É incómodo? Sim, mas abram os olhos: a agropecuária, tal como a conhecemos, não é sustentável, não é saudável, e não, não é ética.