Em Kharkiv, na Ucrânia, Pavlo reabriu o seu negócio. Agora distribui pizzas por quem mais precisa
Na Daddy’s Pizza as entregas solidárias são feitas sobretudo a crianças, ao exército, aos médicos que ajudam os feridos e às equipas das associações humanitárias. “Os nossos heróis”, diz Pavlo Fedosenko ao PÚBLICO.
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Desde que as forças russas invadiram a Ucrânia, a 24 de Fevereiro, Kharkiv, mais a norte e próxima da fronteira com a Rússia, tem sido das cidades mais atacadas. Resta pouco de o que era a região antes, com várias famílias a viver no metro. O empresário Pavlo Fedosenko decidiu arregaçar as mangas e reabrir a sua pizzaria agora com um novo propósito: entregar comida a quem mais precisa, a pedido dos outros.
Quando tomou a decisão de reabrir a Daddy’s Pizza, no passado dia 2, Pavlo teve de procurar uma nova equipa, conta ao PÚBLICO, via e-mail. “A equipa antiga foi toda evacuada”, lamenta, explicando que, para além de ter uma pizzaria, também é jornalista. Agora, não só “entrega pizzas aos clientes normais que fazem as suas encomendas”, mas também o faz a outras pessoas sobretudo a pedido de familiares. “As pessoas que encomendam não estão Kharkiv e muitas nem estão na Ucrânia”, explica.
O conforto chega a casa de quem vive assolado pelo conflito em forma de uma pizza quente. A palavra foi-se espalhando e agora há quem envie dinheiro de todo o mundo para ajudar Pavlo nesta missão. “Pedem-nos que entreguemos pizzas aos médicos, ao exército, às crianças, às equipas humanitárias e a outros dos nossos heróis”, relata.
A sua história foi partilhada por Hanna Liubakova, jornalista da Bielorrússia, no Twitter, e rapidamente se multiplicaram centenas de comentários a perguntar como era possível contribuir à distância. “Já tenho comprado bilhetes para o jardim zoológico na Ucrânia, acho que agora também preciso de pizza”, escreveu um utilizador. O vídeo mostra o percurso de Pavlo Fedosenko enquanto faz as entregas. Para já, explica ao PÚBLICO, ninguém lhe pediu pizza gratuitamente, mas se o fizerem, não recusará, garante.
O negócio do jornalista, a Daddy’s Pizza, é especializada em pizzas americanas de tamanhos generosos. “Um dia reparamos que não havia uma boa pizza americana na nossa cidade, e decidimos resolver o problema”, pode ler-se no site oficial do espaço. A promessa parece ser cumprida pelas fotografias das apetitosas pizzas, quase todas com mais de um quilo. É possível pedir com 35 ou 50 cm, a partir do 239 hryvnias, menos de oito euros.
Quem quiser ajudar, informa Pavlo Fedosenko, poderá fazê-lo por transferência bancária ou por Paypal, contactando o restaurante via e-mail (daddyspizza21@gmail.com) ou através da página de Instagram. “Com este dinheiro, criamos uma espécie de ‘fundo de pizzas’, e depois distribuímos pelas pessoas”, explica, salientando, uma vez mais, quem tem sido ajudado.
Pavlo Fedosenko não é o primeiro a transformar o seu negócio para ajudar os outros, na sequência do conflito que se instalou na Ucrânia. Há várias semanas que o conhecido chef ucraniano Ievgen Klopotenko abriu em Lviv um pequeno bistrô onde alimenta gratuitamente todos os que pedem. “Percebi que não sou muito bom com armas, mas sei que sou muito bom guerreiro com uma faca”, dizia, com humor, o chef, em declarações à Reuters. “O meu objectivo e missão na vida é alimentar as pessoas”. A cave do seu restaurante em Kiev já tinha servido de abrigo contra os bombardeamentos no início da guerra.
Este patriotismo é o que tem mantido os ucranianos unidos e cada um tem ajudado da melhor forma que consegue, seja a entregar pizzas ou juntando-se ao exército, elogiava a primeira-dama Olena Zelenska, em entrevista à Vogue. “Somos todos ucranianos, primeiro que tudo, e só depois tudo o resto.” E a guerra está a acelerar o desenvolvimento deste sentimento nas próprias crianças, defendia, que “crescerão como defensoras da sua pátria”.
Esta quinta-feira, 14 de Abril, a Procuradoria-Geral ucraniana informou que já foram registados pelo menos 6492 crimes de agressão e de guerra. Morreram 197 crianças e ficaram feridas pelo menos 351, de acordo com a mesma fonte. A situação continua particularmente grave em Mariupol, onde já serão entre 20 e 22 mil os civis mortos, lamentava o chefe da administração regional militar de Donetsk, Pavlo Kirilenko.