Com automóveis eléctricos gratuitos, Castelo Novo é mesmo um destino para carregar baterias
Em Castelo Novo, Fundão, circular num automóvel pode ser, durante os próximos seis meses, livre de emissões e gratuito. Tanto para residentes como para visitantes. Os dados do projecto-piloto, apresentado na terça-feira, serão estudados e, se o resultado for positivo, a iniciativa poderá ser estendida à restante rede de aldeias históricas.
Transformar as aldeias históricas em redutos de sustentabilidade é um dos objectivos a longo prazo da Associação de Desenvolvimento Turístico que as gere. Para tal, uma das missões passa por retirar os veículos movidos a combustíveis fósseis, apostando numa mobilidade suave — ou automóvel, que tenha por base energias não poluentes.
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Transformar as aldeias históricas em redutos de sustentabilidade é um dos objectivos a longo prazo da Associação de Desenvolvimento Turístico que as gere. Para tal, uma das missões passa por retirar os veículos movidos a combustíveis fósseis, apostando numa mobilidade suave — ou automóvel, que tenha por base energias não poluentes.
A ideia não é de hoje nem sequer é inédita — o mesmo acontece em várias estâncias de esqui em que os carros ficam estacionados longe do branco da neve. Mas tem agora o que é necessário para se tornar realidade, depois de a Renault Portugal ter disponibilizado cinco viaturas totalmente eléctricas a pensar em diferentes necessidades: dois utilitários Zoe, um furgão Kangoo Z.E., um citadino Twingo Electric e o quadriciclo Twizy, que pode ser assumido por maiores de 16 anos desde que possuam carta de categoria AM, que permite a condução de motociclos até 125 cm3. As viaturas têm seguro de danos próprios, providenciado pela Renault Portugal, tendo a caução, caso seja necessário, ficado a cargo da Câmara Municipal do Fundão.
Colocar à disposição veículos de distintas características vai ao encontro do objectivo de servir múltiplos perfis. Assim, os carros poderão ser reservados por visitantes que pretendam conhecer a região e até visitar outra aldeia histórica nas proximidades (Belmonte fica a 45 quilómetros; Idanha-a-Velha e Monsanto, no concelho de Idanha-a-Nova, a cerca de 60); por residentes, para irem à capital de distrito ao médico, ao município do Fundão para tratar de qualquer questão num serviço público, às compras ou simplesmente passear; pelas empresas a operar na região, inclusive as ligadas à agricultura ou à pecuária; ou, por fim, por trabalhadores nómadas que, sobretudo depois dos dois anos de pandemia, pegaram nos seus computadores e escolheram o interior, sem que tivessem alterado a sua residência, para passar a trabalhar à distância — só no Fundão, avança o presidente da Câmara Municipal, Paulo Fernandes, há actualmente cerca de mil engenheiros informáticos e programadores.
Do lado da autarquia, assumiu-se a instalação das estações de carregamento eléctricas para as viaturas, cujo uso não requer pagamento, assim como o apoio das infra-estruturas e pessoas ligadas ao turismo na região. Por exemplo, uma das funções destes carros será servirem de transfer para quem chega de comboio às estações de Castelo Novo, Alpedrinha ou Fundão — e, para isso, haverá alguém do Posto de Turismo a fazer esse trajecto. É também no Posto de Turismo que podem ser feitas as reservas das viaturas, cujo processo pode ainda ser executado online, numa plataforma criada para o efeito, avançou a coordenadora executiva das Aldeias Históricas de Portugal (AHP), Dalila Dias.
Além da vertente prática, o presidente da AHP, Carlos Ascensão, autarca de Celorico da Beira, destaca como este projecto pode servir para “mudar mentalidades”, ao mesmo tempo que “promove o desenvolvimento regional” e “torna o território mais sustentável”, declarando a sua “esperança que [o projecto] se estenda às restantes aldeias”: Almeida, Castelo Mendo, Castelo Rodrigo, Idanha-a-Velha, Linhares da Beira, Marialva, Monsanto, Piódão, Sortelha, Belmonte e Trancoso.
Para já, não há, confirmou Hugo Barbosa da Comunicação da Renault Portugal ao PÚBLICO, limite de quilómetros nem um perímetro de utilização. “Os visitantes podem ir, por exemplo, de Castelo Novo à aldeia de Monsanto.” No entanto, impor limites pode ser observado como uma necessidade e ser feita uma adaptação ao regulamento mais tarde. “Como projecto-piloto vamos avaliando a utilização que é feita.”
É, porém, exigido que a viatura seja devolvida no local de recolha e dentro do horário de funcionamento do Posto de Turismo, sendo o período máximo de cada utilização avaliado tendo por base a procura do serviço.
A apresentação, que decorreu na aldeia histórica do município do Fundão, contou com a presença do secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, Carlos Miguel, que destacou o facto de este ser um projecto “em que a sustentabilidade ambiental é a primeira, a segunda e a terceira prioridade”.