Conselheiro de Zelensky admite vingar “em todo o mundo” os massacres em Bucha

Serhii Leshchenko diz que os responsáveis pela morte de civis na Ucrânia podem vir a ser assassinados, ao longo dos próximos anos, numa operação semelhante à que foi lançada por Israel para vingar os atletas mortos nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972.

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Corpos exumados em Bucha, perto de Kiev, no âmbito de uma investigação liderada pela procuradoria-geral ucraniana EPA/OLEG PETRASYUK

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O antigo jornalista ucraniano Serhii Leshchenko, um dos conselheiros do Presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, diz que a vingança pelo massacre de civis em Bucha, nos arredores de Kiev, pode passar pelo assassínio de responsáveis russos ao longo dos próximos anos e “em todo o mundo” – à imagem da operação clandestina lançada por Israel, em 1972, para assassinar os palestinianos responsáveis pelo massacre de atletas israelitas nos Jogos Olímpicos de Munique.

Em entrevista ao site norte-americano Puck, Leshchenko não desvaloriza a importância de uma acusação criminal e de um julgamento formal dos responsáveis por massacres de civis em Bucha e noutras cidades ucranianas.

Mas o conselheiro de Zelensky duvida que os envolvidos sejam capturados e entregues às autoridades ucranianas para o cumprimento de eventuais penas, dando o exemplo do que aconteceu no caso do abate de um avião da Malaysian Airlines, em 2014, durante os primeiros meses da guerra no Leste da Ucrânia.

“Se foi possível no caso do voo MH17, que aconteceu em território que não era controlado por nós, também será possível neste caso. Os massacres estão a acontecer no nosso território e numa época em que a tecnologia – como a geolocalização – é muito melhor do que era há oito anos”, diz Leshchenko, referindo-se ao julgamento em curso, nos Países Baixos, dos quatro suspeitos no abate do voo MH17, que resultou na morte das 298 pessoas que seguiam a bordo.

Em Dezembro de 2021, a acusação pediu prisão perpétua para os quatro suspeitos (três russos e um ucraniano pertencente às forças da autoproclamada República Popular de Donetsk). As sentenças vão ser lidas a partir de Setembro, sem a presença dos envolvidos.

“Penso que a Ucrânia irá formar – ou irá formar-se por si próprio – um grupo que terá como missão obter vingança em todo o mundo, como fez Israel”, diz Leshchenko na entrevista, quando questionado sobre se espera que os responsáveis sejam levados perante a Justiça.

“Espero que seja possível identificar e acusar pessoas específicas, mas a questão sobre se vão ser capturadas ou não, não é um objectivo na Ucrânia”, diz o conselheiro de Zelensky. “Muitos criminosos da época do antigo Presidente Viktor Ianukovitch fugiram, e o nosso objectivo passou a ser apenas investigar e acusar essas pessoas, estejam elas fisicamente presentes na Ucrânia ou não.”

Putin diz que imagens são “falsas"

Leshchenko esteve em Irpin no dia 2 de Abril, três dias depois de as tropas russas terem abandonado a cidade situada nos arredores de Kiev e perto de Bucha. No dia 4 de Abril, estava na comitiva da presidência ucraniana quando Zelensky visitou Bucha.

Na entrevista ao site norte-americano, diz estar convencido de que os massacres de centenas de civis em cidades que estiveram sob domínio russo – mais de 400 mortos só na região de Kiev, segundo as autoridades ucranianas – obedeceram a um plano e a ordens superiores.

“Se fosse o caso de os soldados [russos] se terem transformado em animais, não seria um fenómeno massificado, como é. E os primeiros corpos começaram a aparecer cinco dias após a captura das cidades pelos russos. Não houve tempo para eles se transformarem em animais”, diz Leshchenko.

Na terça-feira, durante uma visita ao cosmódromo de Vostochni, no extremo oriente da Rússia, o Presidente russo, Vladimir Putin, disse que as imagens de corpos de civis ucranianos espalhados pelas ruas de Bucha são “falsas”. Ao lado de Putin, o Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, disse que são o resultado de uma “operação especial psicológica” executada por agentes britânicos.

O ex-jornalista ucraniano Serhiy Leshchenko – autor de várias investigações sobre corrupção na política da Ucrânia, e conhecido por ter revelado as ligações do antigo conselheiro de campanha de Donald Trump, Paul Manafort, ao ex-Presidente ucraniano Viktor Ianukovitch – vê nos desmentidos do Kremlin “uma táctica clássica da propaganda russa”.

“Eles não querem dar a sua versão dos acontecimentos; querem minar a confiança das pessoas em qualquer versão”, diz Leshchenko. “Querem promover a ideia de que a verdade não pode ser conhecida, porque as coisas são muito complicadas e há muita gente a mentir. Desta forma, não querem apresentar a sua versão, mas sim destruir a verdade.”