Neptuno está a arrefecer há quase 20 anos – quando devia fazer o oposto
O planeta mais distante do nosso sistema solar entrou há duas décadas na sua estação de verão – mas ao contrário do previsto está a arrefecer. E o mais surpreendente é que está a arrefecer de forma bastante rápida.
O nosso conhecimento sobre o planeta mais distante do nosso sistema solar ainda é escasso. Os anos duram mais (um ano em Neptuno equivale a 165 na Terra) e as mudanças costumam ser observadas de forma mais lenta. Nas últimas duas décadas, Neptuno a temperatura global desceu 8 graus Celsius – apesar de o planeta ter entrado na estação de Verão.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O nosso conhecimento sobre o planeta mais distante do nosso sistema solar ainda é escasso. Os anos duram mais (um ano em Neptuno equivale a 165 na Terra) e as mudanças costumam ser observadas de forma mais lenta. Nas últimas duas décadas, Neptuno a temperatura global desceu 8 graus Celsius – apesar de o planeta ter entrado na estação de Verão.
A equipa internacional de astrónomos acompanhou as temperaturas atmosféricas de Neptuno ao longo dos últimos 17 anos – e esta mudança repentina surpreendeu. “Esta mudança foi inesperada. Como temos observado Neptuno durante o início do Verão no sul, esperamos que as temperaturas aqueçam lentamente, não que arrefeçam”, explica o investigador da Universidade de Leicester, Michael Roman.
E a surpresa não fica por aqui. Apesar desta queda global da temperatura em Neptuno, entre 2018 e 2020 houve uma subida repentina de 11ºC no pólo sul. Não seria surpreendente uma temperatura mais quente nesta região – o vórtice polar quente de Neptuno já era conhecido desde 2007 -, mas uma subida de 11ºC no espaço de dois anos não tem precedentes, especialmente num planeta em que as mudanças se esperam mais lentas.
Tal como no nosso planeta, Neptuno também tem estações do ano à medida que orbita o sol – com a diferença de que cada estação em Neptuno dura cerca 40 anos. No caso de Neptuno é verão no hemisfério sul desde 2005, data em que os investigadores começaram a acompanhar as alterações nas temperaturas atmosféricas do planeta mais distante do nosso sistema solar.
Quão complexo pode ser? No caso do planeta Terra, os avisos dos cientistas climáticos são consensuais em definir um limite no aumento da temperatura do planeta até 1,5ºC – desde a revolução industrial, há mais de 150 anos. A subida de 11ºC em dois anos, num planeta em que a temperatura rondava os -220ºC, é uma surpresa enorme – e para a qual ainda não há explicação.
A observação feita por esta equipa de cientistas é agora publicada no The Planetary Science Journal.
Como aconteceu? Ainda não sabemos
Para acompanhar as temperaturas atmosféricas em Neptuno, a equipa de astrónomos utilizou telescópios terrestres, incluindo o VLT do Observatório Europeu do Sul, de forma a registar estas temperaturas através de imagens infravermelhas térmicas. Através das imagens colectadas, a equipa conseguiu construir um retrato da temperatura e das suas variações durante esta primeira parte do seu verão.
“Os dados que recolhemos cobrem menos de metade de uma estação do ano em Neptuno, portanto ninguém esperava ver mudanças tão significativas e rápidas”, aponta Glenn Orton, investigador no Laboratório de Propulsão a Jacto da Universidade de Caltech (Estados Unidos da América).
Estas medições inesperadas ainda não têm justificação para a equipa de cientistas que as apresenta. Existem, porém, algumas hipóteses, como a mudança química da estratosfera de Neptuno, o ciclo solar, ou mesmo padrões meteorológicos aleatórios de que ainda não temos conhecimento.
“Neptuno é em si muito intrigante para a maioria de nós porque ainda sabemos muito pouco sobre o planeta. Isto aponta para um retrato bem mais complicado da atmosfera de Neptuno e da forma como ela muda com o tempo”, refere o investigador Michael Roman.
Nos próximos anos Neptuno continuará a ser um espaço prioritário no registo de temperaturas – e das suas variações -, principalmente para compreender o que motiva estas rápidas e surpreendentes alterações de temperatura.