Aromas do Vinho: Uma garrafeira com muitos mundos
Entre muralhas, em Valença, há uma loja de bebidas que é também museu e distribuidora. O dono é um comunicador nato, um investigador e escritor, e ainda tem tempo para a solidariedade. Para João Guterres, o dia não tem só 24 horas.
Valença é uma das cidades portuguesas que cresceram dentro de uma fortaleza. Pela localização nas margens do rio Minho, na fronteira, velhas questões com os vizinhos galegos motivaram a construção de um castelo medieval, substituído no século XVII por uma fortaleza mais apta a resistir a tiros de canhão. Passados esses tempos conturbados, a velha fortaleza lá está, cuidada e alindada, a desejar boas-vindas a quem a visite.
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Valença é uma das cidades portuguesas que cresceram dentro de uma fortaleza. Pela localização nas margens do rio Minho, na fronteira, velhas questões com os vizinhos galegos motivaram a construção de um castelo medieval, substituído no século XVII por uma fortaleza mais apta a resistir a tiros de canhão. Passados esses tempos conturbados, a velha fortaleza lá está, cuidada e alindada, a desejar boas-vindas a quem a visite.
É numa rua do velho burgo fortificado que fica a Garrafeira Aromas de Vinho. Abriu as suas portas em finais da década de 1970 e, desde então, o seu dono, João Guterres, não tem parado de inovar, de estudar e de ensinar não só sobre o vinho, mas também sobre a gastronomia regional minhota, sendo autor de três livros: Peixes do Rio Minho – Receitas com História (ed. Afrontamento, 2020), Gastronomia de Valença (ed. Município de Valença, 2022) e Gastronomia Caminhense, com mais um à espera de ser publicado sobre Paredes de Coura.
Voltando à garrafeira, podemos encontrar cerca de 1200 referências “entre vinhos e destilados, porque também sou licorista” diz-nos João. Os vinhos tranquilos que mais vende são os da Região dos Vinhos Verdes e por uma razão interessante: “Uma boa parte dos meus clientes são espanhóis e vêm cá comprar vinho do porto. A pouco e pouco, cativei-os e agora já não dispensam os nossos alvarinhos e loureiros, e um pouco também os trajaduras, as suas castas preferidas.” Por ironia, a sua “jóia da coroa” é um tinto da casta vinhão, de seu nome Aguião, feito à antiga, em lagar com pisa a pé.
João Guterres é um homem dos sete ofícios e outros tantos talentos. Fundou uma distribuidora que trabalha muito com a restauração, mas também tem uma interessante actividade comercial em todo o território nacional, Espanha e Angola. E, no primeiro andar do edifício da Rua Apolinário da Fonseca, montou um espaço museológico que recria uma cozinha e uma mercearia dos anos de 1950.
Acabada a escola primária, João foi trabalhar numa fábrica de chocolates local, a Valenciana, entretanto desaparecida, dando uma mãozinha numa fábrica de pirolitos do tio, ao fim-de-semana. Não esqueceu nada do que aprendeu nesses tempos e, comunicador nato que é, hoje visita as escolas da região, ensinando todos esses saberes aos miúdos. Diz-se que só não tem tempo quem nada faz. João Guterres tem ainda tempo para dividir o seu tempo com a Mesa da Santa Casa da Misericórdia de Valença, sendo o “mesário” responsável pelo fornecimento de 250 refeições diárias a idosos, pobres e crianças das escolas.
Garrafeira Aromas de Vinho
Rua Apolinário da Fonseca, 55, Valença
Tel.: 251826841
Das 10h às 19 h; sábado, das 10h às 14h e das 15h às 19h. Encerra ao domingo