Sala cheia e noite cheia para Ivan Lins num regresso caloroso a Lisboa
Foi o que ele queria que fosse: um reencontro emocionado com o seu público. As canções fizeram o resto, que foi muito, numa noite em alta para Ivan Lins e os seus músicos.
É sempre bom (re)ver Ivan Lins em palco. Melhor ainda numa sala cheia, com lotação esgotada, como foi a do Tivoli BBVA, em Lisboa, na noite de 7 de Abril. Quatro décadas passadas sobre a sua primeira actuação em Portugal, na festa do Avante! (ainda no Alto da Ajuda), estreia essa que ele fez questão de recordar agora, em entrevistas e no próprio concerto, Ivan Lins voltou ao encontro do seu público num “novo tempo” que parece velho. Não pelas suas canções, que resistem estoicamente a datações (algumas até parecem escritas agora), mas pelo ressurgir de velhos fantasmas a assombrar a Europa e o mundo.
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É sempre bom (re)ver Ivan Lins em palco. Melhor ainda numa sala cheia, com lotação esgotada, como foi a do Tivoli BBVA, em Lisboa, na noite de 7 de Abril. Quatro décadas passadas sobre a sua primeira actuação em Portugal, na festa do Avante! (ainda no Alto da Ajuda), estreia essa que ele fez questão de recordar agora, em entrevistas e no próprio concerto, Ivan Lins voltou ao encontro do seu público num “novo tempo” que parece velho. Não pelas suas canções, que resistem estoicamente a datações (algumas até parecem escritas agora), mas pelo ressurgir de velhos fantasmas a assombrar a Europa e o mundo.
Foi nesse contexto, aliás que Ivan escolheu para título do concerto Quero falar de amor, nome da canção que abriu a noite: “Quero falar de amor/ Nesses tempos de ensandecer [...]/ Quero cantar o amor/ Nessas horas que Deus não vê.” Canção que lhe rendeu os primeiros aplausos, a ele e aos músicos presentes: André Sarbib (piano), Cláudio César Ribeiro (guitarra eléctrica), Nema Antunes (baixo eléctrico) e Chris Wells (bateria). Seguiu-se-lhe Meu país (“me diz como posso ser feliz em outro lugar”) e a primeira conversa com o público, onde Ivan Lins lembrou que a vida na Terra acabaria se nos faltassem três coisas: ar, água e música. E para dizer que o amor que ali cantava ia além do imaginário romântico, exigindo uma atitude: “Quem ama, se indigne também.”
Ainda que ao ritmo de uma rumba. Ai, ai, ai, ai, ai (“às vezes tudo é lindo, às vezes tudo engana”) foi a canção seguinte, abrindo espaço a um muito aplaudido solo de piano de Sarbib e a um conjunto de “quatro historinhas de amor” (assim as apresentou Ivan), em canções e quatro fases: a do arremesso (Me deixe em paz), a da separação (Bilhete), a da independência (Começar de novo, que aqueceu a sala) e a do regresso (Lembra de mim).
A balanceada Lua soberana serviu de intróito a “um momento particular”: aquele em que Ivan Lins recordou o seu primeiro concerto em Portugal, em 1981, a sua ligação antiga ao país (“me apaixonei”) e os amigos que por cá foi fazendo, muitos deles músicos. Para homenagear um deles, Carlos do Carmo (1939-2021), que nos deixou há pouco mais de um ano, cantou Fado ultramar, com música do próprio Ivan Lins e letra de José Mário Branco (1942-2019), outro nome que também ali recordou. A canção foi escrita para o disco de Carlos do Carmo Um Homem no País (1983), produzido por José Mário Branco e Ivan gravou-a também na sua voz, há pouco, no disco Tributo a Carlos do Carmo. No Tivoli, quando acabou de cantá-la, emocionou-se a ponto de pedir com a mão uma pausa.
Mas como somos capazes do luto e da festa, e esta tinha de continuar, seguiu-se a bem conhecida Dinorah, Dinorah, pretexto para um elogio aos músicos (“são os meus anjos da guarda”) e para cantar a solo, voz e teclados, O amor em paz, de Tom e Vinicius. Um prenúncio perfeito do que se seguiu: Iluminados, Vitoriosa (com a plateia a cantar em coro o refrão), A gente merece ser feliz e Madalena (a recordar, ali, Elis Regina).
A saída de palco foi provisória, como é costume, e o som dos muitos aplausos que ecoaram na ausência de Ivan e dos músicos deram lugar a um regresso com duas canções plenas de força e esperança: Abre alas (“Abre alas pra minha bandeira/ Já está chegando a hora”) e Desesperar, jamais (“No balanço de perdas e danos/ Já tivemos muitos desenganos/ Já tivemos muito que chorar/ Mas agora acho que chegou a hora/ De fazer valer o dito popular/ Desesperar, jamais”). Era o final anunciado, com Ivan a acenar num adeus reconhecido. Enquanto a sala lentamente se esvaziava, ainda se ouvia alguém a pedir, repetidamente, “Um novo tempo, um novo tempo!” Era o título de outra conhecida canção de Lins, embora o novo tempo de que precisamos seja outro. Talvez venha.