Estudantes com apoio à saúde mental ficam mais empenhados nos estudos

Resultados do projecto-piloto mostraram uma redução dos sintomas de ansiedade ou de comportamentos agressivos e uma melhoria no relacionamento entre colegas.

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Projecto internacional envolveu 1500 alunos de escolas portuguesas Nuno Ferreira Santos

Os estudantes que têm apoio na escola focado na saúde mental ficam mais empenhados nos estudos e obtêm melhores resultados académicos, segundo um projecto internacional que envolveu 1500 alunos de escolas portuguesas.

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Os estudantes que têm apoio na escola focado na saúde mental ficam mais empenhados nos estudos e obtêm melhores resultados académicos, segundo um projecto internacional que envolveu 1500 alunos de escolas portuguesas.

“Quando os alunos ficam mais tranquilos, conhecem melhor os seus limites, conseguem comunicar e gerir melhor os seus sentimentos e preocupações acabam por ficar mais disponíveis para aprender e isso reflecte-se nos resultados”, contou à Lusa Celeste Simões, coordenadora do projecto PROMEHS em Portugal.

O projecto internacional PROMEHS - Promover a Saúde Mental nas Escolas começou em 2019, antes da pandemia. Um grupo de investigadores desenhou um currículo universal para melhorar a saúde mental das crianças e jovens, dos três aos 18 anos, que pudesse ser implementado nas escolas por educadores de infância e professores.

No passado ano lectivo, cerca de 10 mil alunos e mil docentes de seis países europeus - entre os quais Portugal - participaram no projecto-piloto, que revelou melhorias no estado emocional dos alunos, sendo visível a redução de sintomas como ansiedade ou comportamentos agressivos.

Depois de uma formação de 50 horas, os professores levaram para as salas de aula algumas das actividades previstas no currículo de saúde mental. Muitos docentes foram apoiados pelos psicólogos das próprias escolas, disse Celeste Simões, professora da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa.

Em Portugal, o projecto-piloto contou com a participação de 125 professores e educadores de infância e cerca de 1500 alunos de 45 escolas do pré-escolar ao secundário, desde Bragança a Odemira.

Os alunos portugueses tiveram 12 sessões e no final notou-se que tinham “melhorado significativamente a motivação, o envolvimento no processo ensino-aprendizagem e os resultados académicos”, revela o estudo.

O projecto dividiu os alunos em dois grupos - os que tiveram as 12 sessões e o “grupo em lista de espera” que não teve qualquer intervenção - e os resultados confirmam a importância de um currículo de saúde mental nas escolas, sublinhou Celeste Simões.

No grupo experimental, notou-se melhorias significativas no desempenho académico, enquanto o grupo em lista de espera não apresentou alterações significativas.

Na perspectiva dos docentes, a implementação do programa diminuiu também a ocorrência de problemas de comportamento, hiperactividade e problemas de relacionamento com os colegas.

Melhor relação com os alunos

Também os professores consideraram que foi vantajoso terem implementado o currículo. Os docentes sentiram que tinham melhorado a relação com os alunos e que eram agora mais eficazes no que toca ao envolvimento do aluno, nas estratégias de ensino, e até na gestão da sala de aula.

“A relação entre os alunos e o professor melhorou e abriu-se um canal de comunicação e empatia que é fundamental para a aprendizagem”, afirmou a investigadora, recordando uma outra investigação realizada há seis anos que revelou que a relação com o professor afecta o rendimento académico.

O currículo de saúde mental está dividido em três grandes temas e subtemas que são abordados na sala de aula recorrendo a um conjunto de actividades desenhado pela equipa responsável pelo projecto.

Celeste Simões deu como exemplo uma actividade que consiste em contar de uma história focada num problema e depois transferir a problemática para a vida real, perguntando aos alunos se já viveram aquela situação e se conhecem alguém que a tenha vivido.

Estas conversas levaram à identificação de problemas que alguns alunos estavam a viver e, em algumas situações, as crianças acabaram mesmo por ser reencaminhadas para os psicólogos da escola ou para uma ajuda exterior, contou Celeste Simões.

Os investigadores defendem que quantas mais sessões têm, melhores são os resultados obtidos, tanto para alunos como para professores.

Celeste Simões disse à Lusa que o ideal seria implementar o projecto desde o pré-escolar até ao secundário, permitindo acompanhar de forma sistemática os alunos ao longo da sua vida académica.

Um dos objectivos do projecto é precisamente promover a inovação das políticas educacionais, integrando este currículo nas políticas nacionais de educação e saúde: “Gostaríamos que este não fosse apenas mais um projecto europeu que desaparece quando acabam os apoios”, defendeu a docente.