O tempo não volta para trás, mas as células da pele podem rejuvenescer 30 anos
Cientistas do Instituto Brabaham (Reino Unido) e do Instituto Gulbenkian de Ciência rejuvenesceram as células da pele de 53 para 23 anos. Os investigadores acreditam que estes resultados facilitam a descoberta de novas terapias contra as doenças associadas ao envelhecimento.
Vamos fazer uma marcha-atrás no tempo. Imaginem que era 1992, a Dinamarca ganha surpreendentemente o Europeu de Futebol, Bill Clinton é eleito presidente dos Estados Unidos da América, e Portugal assumia pela primeira vez a presidência da União Europeia (Comunidade Económica Europeia à época). O que uma equipa de investigadores do Instituto Brabaham (Reino Unido) e do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) fizeram é precisamente uma reversão de 30 anos, mas em células da pele.
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Vamos fazer uma marcha-atrás no tempo. Imaginem que era 1992, a Dinamarca ganha surpreendentemente o Europeu de Futebol, Bill Clinton é eleito presidente dos Estados Unidos da América, e Portugal assumia pela primeira vez a presidência da União Europeia (Comunidade Económica Europeia à época). O que uma equipa de investigadores do Instituto Brabaham (Reino Unido) e do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) fizeram é precisamente uma reversão de 30 anos, mas em células da pele.
Num estudo publicado na revista ELife, os cientistas, entre os quais se incluem as portuguesas Fátima Santos e Inês Milagre, afirmam que é possível reprogramar as células da pele para que estas se comportem como se fossem muito mais novas - neste caso, 30 anos mais novas.
Esta experiência pode conduzir ao desenvolvimento de novas técnicas para combater as doenças associadas ao envelhecimento, visto que permitem restaurar a função das células ao reduzir a sua idade biológica.
A reprogramação das nossas células não é um mundo novo para a comunidade científica, basta recordar a experiência com a ovelha Dolly, o primeiro mamífero a ser clonado a partir de uma célula adulta. Apesar disso, os resultados desta reprogramação celular surpreendem. Nunca tinha sido feito um rejuvenescimento tão significativo de células como os 30 anos evidenciados no artigo científico.
Como montamos esta “máquina do tempo celular”?
“É um primeiro passo”, começa por dizer Inês Milagre, investigadora do IGC. O processo de reprogramação de uma célula não é simples, mas a base são os quatro factores Yamanaka que permitem transformar células adultas em células estaminais. Normalmente, esta reprogramação era levada até ao fim, mas não neste caso – permitindo o rejuvenescimento e a manutenção da identidade da célula. “Em vez de fazermos o percurso todo de reprogramação das células, o que nós fizemos foi uma reprogramação parcial entre 10 e 17 dias. Depois parámos esse processo e deixámos as próprias células reverterem para o seu estado inicial”, explica.
Assim, uma célula da pele reprogramada parcialmente, apesar da reprogramação vai voltar a ter a identidade e a funcionalidade de uma célula da pele.
“As células continuam a manter uma memória do tipo de células que eram antes. Temos esperança que seja um mecanismo universal para poder ser utilizado noutras células”, adianta a investigadora do IGC. “É possível reprogramar quase todas as células do organismo. Mas é importante perceber se também conseguimos rejuvenescê-las”.
A janela temporal perfeita, pelo menos no caso das células da pele, são os 13 dias – em que existe o rejuvenescimento de 30 anos e ainda uma memória da identidade da célula.
Os principais sinais promissores, dados também neste estudo, estão na capacidade destas células rejuvenescidas em curar feridas, por exemplo, dada a sua maior capacidade em produzir colagénio (uma proteína fundamental para a regeneração de tecido). Mas não só. Também houve indicadores importantes nos efeitos que estas células têm em genes normalmente associados a doenças características do envelhecimento, como o Alzheimer (gene APBA2) ou mesmo o desenvolvimento de cataratas (gene MAF).
Nem tudo é perfeito e este estudo é ainda a um nível celular – e sem possibilidade de transição para a clínica. Os factores utilizados na reprogramação celular, que conduz ao rejuvenescimento, usam vectores virais e proteínas com potencial cancerígeno, o que indica que ainda há um percurso longo a percorrer até as células poderem ser rejuvenescidas de forma segura e em humanos.