Alemanha intercepta áudios russos que parecem admitir massacre de Bucha

Num dos registos analisados pelos serviços secretos, um soldado russo parece afirmar que disparou sobre um homem numa bicicleta. “Primeiro interroga os soldados, depois dispara sobre eles”, diz outro militar. Novas conversas indicam que este não foi um ataque isolado.

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Numa das mensagens, um soldado russo parece ter referido que disparou sobre um civis que passava de bicicleta Reuters/ZOHRA BENSEMRA

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Os serviços secretos da Alemanha interceptaram registos áudio de conversas entre militares russos que podem provar que o massacre em Bucha, onde centenas de civis foram torturados e executados (alguns com as mãos atadas atrás das costas), fazia parte do plano da Rússia.

Os registos de chamadas aconteceram via rádio e foram analisados pelo serviço de informação alemão, Bundesnachrichtendienst (BND). O Governo de Olaf Scholz foi informado das conclusões na quarta-feira e as gravações já estão na posse do Parlamento. Parte das conversas parecem estar relacionadas com o assassínio de civis na cidade de Bucha, escreve a revista alemã Der Spiegel.

Numa das chamadas um militar russo parece afirmar ter acabado de disparar sobre uma pessoa que passava de bicicleta, declaração que corresponde à fotografia do cadáver de um homem caído ao lado de uma bicicleta. Num outro registo, foi detectada a frase: “Primeiro interroga os soldados, depois dispara sobre eles.”

Moscovo negou as acusações feitas pela Ucrânia sobre a autoria do massacre e culpabilizou os soldados ucranianos pelo ataque.

Se forem confirmadas, as conclusões do BND contradizem o discurso do Kremlin, tal como as afirmações de várias testemunhas que presenciaram as atrocidades.

Aparentemente, o material analisado também fornece provas sobre a participação de mercenários do Grupo Wagner no ataque a homens, mulheres e crianças. O grupo esteve relacionado com ataques semelhantes na Síria e noutros países do continente africano.

Além de planeado, os registos sugerem que o massacre em Bucha não foi um acto isolado, nem resultado de um momento de descontrolo da ofensiva militar russa, uma vez que as tropas discutiam os ataques como se estivessem a falar sobre o quotidiano, escreve o jornal citando fontes familiarizadas com o processo.

As mesmas fontes acrescentam ainda que o assassínio de civis se tornou um elemento padrão da “operação militar especial” da Rússia e pode fazer parte de uma estratégia mais ampla. O objectivo é espalhar o medo entre a população e fazer com que as forças ucranianas desistam de combater as tropas inimigas.

Neste momento, estão a ser analisados mais mensagens áudio, avança a Der Spiegel. Detectar a localização dos registos é difícil, mas algumas das gravações parecem remeter para os ataques à cidade de Mariupol.