Como é que se aprende latim? Com canções da Taylor Swift, propõe académico de Cambridge

A nova abordagem proposta pelo professor Steven Hunt quer cativar novos estudantes e potenciar as suas capacidades de tradução, com recurso a músicas populares.

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A cantora Taylor Swift em 2019 Reuters/CAITLIN OCHS

Aprender uma língua estrangeira recorrendo à música é muito comum nas escolas um pouco por todo o mundo. Mas o mesmo não acontece para o latim — porquê? Foi isso que levou o académico Steve Hunt, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, a publicar um novo guia onde sugere que a língua do império romano seja ensinada da mesma forma e até dá exemplos concretos: com canções da Taylor Swift e da Disney.

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Aprender uma língua estrangeira recorrendo à música é muito comum nas escolas um pouco por todo o mundo. Mas o mesmo não acontece para o latim — porquê? Foi isso que levou o académico Steve Hunt, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, a publicar um novo guia onde sugere que a língua do império romano seja ensinada da mesma forma e até dá exemplos concretos: com canções da Taylor Swift e da Disney.

O objectivo é tornar o histórico idioma mais acessível às novas gerações, não só através das letras de canções, como de videojogos, por exemplo, o Minecraft. O novo guia para os professores de latim sugere que se deixe de ensinar latim apenas com recurso à prosa de Cícero e encoraja os estudantes a falar, cantar ou escrever de forma mais criativa, ao mesmo tempo que aprendem o vocabulário e a gramática. Ao traduzir uma canção de que gostem, os alunos estão também a compreender as técnicas da poesia latina, incentiva o novo guia.

Steven Hunt, que ensina latim há 35 anos e dá formação a docentes, não despreza os métodos de ensino tradicionais, que acredita continuarem a desempenhar um papel fundamental. Ainda assim, sublinha, ao The Guardian, esta abordagem mais aberta poderá tornar apelativa uma língua que tem vindo a cair em desuso. No Reino Unido, por exemplo, o professor lamenta que menos de dez mil alunos estejam a aprender a língua. Os que o fazem estão sobretudo em escolas privadas. De acordo com um estudo recente do British Council, no ensino secundário, o latim é leccionado em menos de 3% das escolas públicas britânicas, comparado com 49% das instituições de ensino privadas.

O académico dá exemplos concretos desta nova abordagem com um estudo levado a cabo na Universidade de Austin Peay, no Tennessee, EUA: um professor universitário estava com dificuldade em conseguir que os alunos traduzissem um poema de Virgílio, e pediu-lhes que fizessem, em alternativa, a tradução de uma canção de que gostassem. Entre um dos exemplos mais bem-sucedidos está a conhecida música Bad blood de Taylor Swift — ou Malum sanguinem, em latim.

Há também estudantes que gravaram uma versão em latim do êxito da Disney, Let it go — em latim, Libera. Outros criaram uma versão de Roma em 3D no Minecraft e apresentaram-na à turma em latim, claro. “O problema com o ensino do latim é que nunca foi sujeito a uma investigação académica aprofundada; tendemos a confiar em informações históricas sobre o que parece funcionar”, lamenta Steven Hunt, O professor confessa que ele próprio detestava latim quando começou a aprender aos 11 anos, e arrepia-se só de pensar que foi ensinado através de textos sobre a escravatura e a submissão da mulher.

O docente reconhece que não é dono da razão, já que “não há uma melhor forma de ensinar” e elogia os métodos que alguns professores têm criado: “Muitos debruçam-se nos princípios do ensino de línguas modernas. Porque o cérebro humano é feito para o som, aprende a falar, ouvir e a usar a língua”, defende, sublinhando que isto se aplica “a qualquer idioma — vivo ou morto”.

Basta uma rápida pesquisa no Youtube para comprovar que a abordagem do académico de Cambridge já tem adeptos. É possível encontrar versões em latim de êxitos como Havana de Camila Cabello, Do I wanna know dos Artic Monkeys ou mesmo de We don’t talk about Bruno, do mais recente êxito da Disney, Encanto. “O desafio para os professores nos anos vindouros será se estão preparados para aproveitar estas oportunidades e apresentar as temáticas de forma diferente, renovando o interesse dos estudantes, ou se preferem manter-se nas rotinas familiares”, termina Steven Hunt.