A violência doméstica em cinco séries
Embora as mulheres não sejam as únicas a sofrer de violência doméstica, a verdade é que são as suas maiores vítimas. Aqui estão algumas histórias.
Bom dia, Verónica
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Bom dia, Verónica
Netflix
Com uma abordagem crua aos vários tipos de violência perpetrada contra mulheres, esta série tem realização de José Henrique Fonseca, Rog de Souza e Izabel Jaguaribe e foi muito bem recebida pelo público e pela crítica. O argumento tem por base o policial homónimo escrito por Ilana Casoy e Raphael Montes (sob o pseudónimo de Andrea Killmore) e segue Verônica Torres (Tainá Müller), que trabalha como secretária na esquadra de homicídios de São Paulo. Tudo começa quando ela assiste, horrorizada, ao suicídio de uma mulher dentro das instalações da polícia. O ocorrido, gravado em vídeo e tornado viral, chama a atenção da comunicação social e faz com que Verônica seja contactada por duas mulheres. A primeira é Tânia que, tal como a mulher que se suicidou, foi enganada por um homem que conheceu através de uma aplicação de encontros. A outra é a submissa Janete (Camila Morgado), casada com Cláudio Antunes Brandão (Eduardo Moscovis), um polícia militar de alta patente que a agride, humilha e isola de todos os modos que consegue. Determinada a ajudá-las e, simultaneamente, provar as suas habilidades como investigadora, Verônica inicia uma investigação por conta própria. É assim que se depara com um esquema de corrupção de proporções inesperadas que envolve policias, magistrados e políticos muito poderosos. A completar o elenco estão também os actores Antônio Grassi, César Mello, Elisa Volpatto, Silvio Guindane e Aline Borges. A primeira temporada estreou-se em Outubro de 2020 na plataforma de streaming Netflix, que já assegurou a produção de uma segunda.
Phoenix Rising
HBO Max
Realizado e produzido pela norte-americana Amy Berg (Livrai-nos do Mal, A Oeste de Memphis), este documentário dividido em duas partes fala sobre a alegada violência sofrida pela actriz Evan Rachel Wood (Thirteen, Mildred Pierce, The Wrestler ou Westworld) durante o seu relacionamento com Brian Warner, conhecido pelo nome artístico de Marilyn Manson. Ao perceber que os crimes de violência doméstica e violação a que foi sujeita tinham prescrito e que em termos legais nada poderia ser feito, a actriz deu início ao Phoenix Act, uma campanha para prolongar a prescrição desse tipo de crimes de modo a dar tempo às vítimas para ganhar coragem para expor os agressores. Em 2018, durante uma audiência perante o Comité de Assuntos Judiciais da Câmara dos Representantes, a actriz referiu ter sido vítima de violação, de abusos físicos e psicológicos, sem referir o autor. A decisão de nomear publicamente Manson como seu agressor só aconteceu no dia 1 de Fevereiro de 2021, através da sua conta de Instagram. A partir daí foi contactada por várias mulheres alegadamente vítimas da violência de Manson, entre elas Esmé Bianco (Guerra dos Tronos) e a modelo Ashley Morgan Smithline. Após Phoenix Rising se ter estreado no Festival de Cinema de Sundance a 23 de Janeiro de 2022, o músico voltou a negar as acusações, tal como em Fevereiro de 2021, e apresentou uma acção judicial contra a actriz e contra a realizadora.
A Criada
Netflix
Alex cresceu numa família disfuncional e, mesmo em adulta, nunca pôde contar com o apoio da mãe, doente bipolar, ou do pai, que cedo as abandonou para formar uma nova família. Quando, depois de mais uma violenta discussão, resolve deixar o namorado e fugir a meio da noite com Maddy, a filha de ambos, fica completamente à mercê das circunstâncias. Sem dinheiro ou alguém que lhe dê a mão, vê-se emaranhada nas exigências da segurança social, que funciona segundo regras despropositadas para quem precisa de ajuda urgente. Depois de uma noite ao relento, é aceite num abrigo para mulheres vítimas de violência doméstica e começa a trabalhar numa empresa de limpeza. Apesar dos obstáculos com que se depara constantemente e que, demasiadas vezes, lhe parecem intransponíveis, esta jovem mãe nunca perde o foco da sua luta: fazer o que estiver ao seu alcance para dar uma vida digna à pequena Maddy. Criada por Molly Smith Metzler, esta série dramática fala sobre a violência doméstica (mesmo que não inclua maus tratos físicos) e inspira-se no best-seller homónimo de Stephanie Land, onde a autora relata as suas próprias vivências. O elenco conta com Margaret Qualley, Andie MacDowell (mãe de Margaret na série e na vida real), Nick Robinson, Anika Noni Rose e também com a brilhante interpretação da pequena Rylea Nevaeh Whittet, que dá vida a Maddy.
Made for Love
HBO Max
Há dez anos sem poder sair da grande e luxuosa mansão do marido, Byron Gogol (Billy Magnussen), um multimilionário que fez fortuna na área da tecnologia, Hazel (Cristin Milioti) decide que chegou o momento de fugir. Aprisionada num ambiente de luxo, que monitoriza todas as suas necessidades e lhe proporciona o máximo prazer possível, sente falta da liberdade de uma vida normal. Depois de um plano mirabolante que cumpre escrupulosamente, vê-se fora da propriedade. Depois percebe que Bryan, sem a avisar, lhe incorporou um dispositivo no cérebro que lhe permite aceder às suas memórias, sentimentos e tudo o que lhe vai pela mente. Agora, para conseguir reaver a sua individualidade, ela vai ter de encontrar um meio de se livrar de Byron e das suas invenções. E vai provar que é capaz de tudo para o conseguir. Realizada por Stephanie Laing e Alethea Jones, uma comédia negra sobre dominação e masculinidade tóxica que tem por base o romance homónimo de Alissa Nutting, que também faz parte da equipa de argumentistas. A primeira temporada estreou-se em Abril de 2021 na HBO e há uma segunda a caminho.
Angela Black
HBO
A viver numa luxuosa casa nos arredores de Londres, Angela Black (Joanne Froggatt, a Anna Bates de Downton Abbey) parece ser feliz ao lado de Oliver (Michiel Huisman, de A Idade de Adaline ou Guerra dos Tronos), marido e pai dedicado dos dois filhos de ambos. Mas tudo isto não passa de uma farsa. Na verdade, há muito que ela é vítima de violência doméstica e está economicamente dependente do marido que, ao longo dos anos, a alienou intencionalmente de todas as pessoas que lhe poderiam dar a mão. Mas o que até aqui parecia ser “apenas” mais uma história infeliz, ganha novos contornos quando Angela é contactada por Ed (Samuel Adewunmi, de You Don't Know Me), um detective privado contratado por Oliver, que lhe faz revelações absolutamente aterradoras acerca do que lhe está prestes a acontecer. Estreada em Setembro de 2021 na plataforma de streaming HBO, esta história dramática com contornos de thriller psicológico foi criada pelos irmãos Harry e Jack Williams e realizada por Craig Viveiros (também responsável por alguns episódios das séries Testemunha Silenciosa ou Guerra dos Mundos).