O livro que Soares queria reeditar

Símbolo do combate à ditadura, a obra de Mário Soares começou a ser escrita em 1968 e foi publicada em 1972. Este mês faz 50 anos que o livro saiu à rua.

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O livro Portugal Amordaçado, de Mário Soares, faz 50 anos LUIS VASCONCELOS

Comemoram-se este mês cinquenta anos da publicação do livro Portugal Amordaçado, livro emblemático da autoria de Mário Soares, que o autor queria reeditar no final da sua vida, mas já não conseguiu. Para assinalar a data o PÚBLICO edita um ensaio sobre a obra elaborado pelo deputado do PS Sérgio Sousa Pinto, que com ele privou, desde que juntos foram eurodeputados, e que é o político das novas gerações socialistas que mais se assume como seu discípulo.

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Comemoram-se este mês cinquenta anos da publicação do livro Portugal Amordaçado, livro emblemático da autoria de Mário Soares, que o autor queria reeditar no final da sua vida, mas já não conseguiu. Para assinalar a data o PÚBLICO edita um ensaio sobre a obra elaborado pelo deputado do PS Sérgio Sousa Pinto, que com ele privou, desde que juntos foram eurodeputados, e que é o político das novas gerações socialistas que mais se assume como seu discípulo.

A primeira edição desta obra, sob forma encurtada, foi dada à estampa em França, pela editora Calmann-Levy, sob o título de Le Portugal Baillonné. Témoignage. Cerca de dois anos depois, em Outubro de 1974, após o 25 de Abril, a versão integral foi finalmente publicada em Portugal, pela editora Arcádia, sob o título de Portugal Amordaçado. Depoimento sobre os anos do fascismo. Já em 2017, após a morte de Mário Soares, o Expresso reeditou a obra em sete volumes.

Assumindo-se como um ensaio de reflexão e denúncia da ditadura portuguesa, o livro começou a ser escrito em 1968, no arquipélago de São Tomé e Príncipe, para onde Mário Soares foi deportado, sem nunca ter sido julgado em tribunal político. Como o autor explica no prefácio, o livro foi continuado em Itália e terminado em 1971, em França, onde estava exilado.

A publicação de Portugal Amordaçado em França foi um grito de alerta para a situação de ditadura portuguesa e causou impacto público internacional, pelo que denunciava, tornando-se num símbolo da resistência política e do combate ao Estado Novo.

Como Mário Soares explica no prefácio da edição portuguesa “trata-se fundamentalmente de um depoimento despretensioso sobre os anos do fascismo e sobre a luta ‘indomada e indomável’ dos democratas”, assumidamente pessoal.

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Capa da edição portuguesa de Portugal Amordaçado, de Mário Soares

Portugal Amordaçado é também um espelho de convicção e de afirmação democrática, em que Mário Soares reflecte e expõe as suas então três décadas de experiência antifascista e em que aborda momentos e factos da história portuguesa como o assassinato pela PIDE do general Humberto Delgado ou como a Guerra Colonial.

Dedicando o livro à “companheira admirável e solidária de um longo e difícil combate”, Maria de Jesus Barroso, Mário Soares faz questão de dedicar a obra “à memória de: António Sérgio, Bento de Jesus Caraça, Jaime Cortesão, Manuel Mendes, Maria Isabel Aboim Inglês, Mário de Azevedo”, que caracteriza como “mestres de civismo”. Uma dedicatória em que assume a sua filiação democrática nas primeiras gerações da resistência ao salazarismo.