O palco de Pocilga era de uma alvura impecável — ou melhor, de uma alvura doentia, invasiva, nauseante. Os actores afadigavam-se a limpar e varrer qualquer sujidade que se apoderasse daquele espaço estéril, daquele espaço manchado por qualquer indício de vida, num ambiente de uma realidade cirúrgica, controladora, anestésica. E era desse ambiente, contaminado pelo vírus capitalista e tornado num lugar de absoluta submissão do homem a esse modelo sócio-económico, que Julian, filho de um industrial alemão, tentava fugir na peça de Pier Paolo Pasolini, refugiando-se junto dos porcos, na pocilga. Julian recusava não apenas tornar-se o herdeiro de um pai candidato a primeiro-ministro, enlameado de poder até aos cabelos e com um plano milimétrico para o futuro do filho, mas esquivava-se do mundo enquanto construção humana, de instintos domesticados e entregue a um ideário burguês circunscrito por regras comportamentais de exemplar, hierárquica e aprumada convivência comunitária.
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O palco de Pocilga era de uma alvura impecável — ou melhor, de uma alvura doentia, invasiva, nauseante. Os actores afadigavam-se a limpar e varrer qualquer sujidade que se apoderasse daquele espaço estéril, daquele espaço manchado por qualquer indício de vida, num ambiente de uma realidade cirúrgica, controladora, anestésica. E era desse ambiente, contaminado pelo vírus capitalista e tornado num lugar de absoluta submissão do homem a esse modelo sócio-económico, que Julian, filho de um industrial alemão, tentava fugir na peça de Pier Paolo Pasolini, refugiando-se junto dos porcos, na pocilga. Julian recusava não apenas tornar-se o herdeiro de um pai candidato a primeiro-ministro, enlameado de poder até aos cabelos e com um plano milimétrico para o futuro do filho, mas esquivava-se do mundo enquanto construção humana, de instintos domesticados e entregue a um ideário burguês circunscrito por regras comportamentais de exemplar, hierárquica e aprumada convivência comunitária.