Aos 100 anos, Iris Apfel ainda tem muito a dizer sobre moda. A prová-lo, uma nova colecção na H&M
Para a conhecida empresária norte-americana, o segredo do estilo é a mistura de peças, sempre respeitando o individualismo.
Tem 100 anos — a caminho dos 101, que celebra em Agosto — e continua a dar cartas na moda. O mantra de Iris Apfel é “More is more & less is a bore” (mais é mais e menos é uma seca, numa tradução livre) e está espelhado na nova colecção com a sua assinatura que chegou esta quinta-feira à H&M, também online. A ideia, explica em entrevista à edição britânica da revista Vogue, é levar o seu estilo icónico, admirado em todo o mundo, a todos “os que querem parecer um bocadinho diferentes”. A maior parte das peças esgotou pouco depois terem sido colocadas à venda.
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Tem 100 anos — a caminho dos 101, que celebra em Agosto — e continua a dar cartas na moda. O mantra de Iris Apfel é “More is more & less is a bore” (mais é mais e menos é uma seca, numa tradução livre) e está espelhado na nova colecção com a sua assinatura que chegou esta quinta-feira à H&M, também online. A ideia, explica em entrevista à edição britânica da revista Vogue, é levar o seu estilo icónico, admirado em todo o mundo, a todos “os que querem parecer um bocadinho diferentes”. A maior parte das peças esgotou pouco depois terem sido colocadas à venda.
A imagem da irreverente decoradora e empresária, com os seus vistosos óculos redondos, é imediatamente reconhecida pelos apreciadores de moda e está presente em vários elementos da colecção, quer em pequenos detalhes, quer desconstruída em padrões. Apfel tem uma abordagem sui generis à moda, assente na ideia de que a arte de bem vestir deverá ser ecléctica, sem ser preciso gastar uma fortuna. “Adoro a ideia de misturar os altos e baixos”, explica, referindo-se à moda de luxo e à fast-fashion, como é o caso da gigante sueca.
Nos seus dias de ouro, Iris Apfel tanto podia ser encontrada às compras em lojas vintage e mercados de rua, como em boutiques de luxo e nos ateliers dos mais conceituados criadores de moda. Mas hoje, lamenta, “não há muita moda”. “Quando era nova, costumava esperar pela próxima fornada de revistas de moda sair, para ver o que os designers andavam a preparar. Agora, é tudo homogéneo; toda a gente copia toda a gente e dificilmente há algo de novo”, critica, sem rodeios.
A nova colecção com a sua assinatura quer quebrar a “rotina” em que o sector tem caído. Há de tudo um pouco, de fatos em jacquard com estampados exuberantes, vestidos de tule com folhos, e até um fato de banho. “Para mim, é uma mistura de tudo. Há coisas para toda a gente”, defende. A sua peça favorita é um casaco em tule que usou na festa de aniversário dos 100 anos em Agosto passado e que “toda a gente adorou”. Em destaque estão, também, os acessórios que incorporam elementos da natureza: flores, sapos, vagens de ervilhas.
Em jeito de conselho, Iris Apfel lembra que não é preciso estar a usar o coordenado mais arrojado para alguém se destacar entre a multidão — muitas vezes basta uma peça chave. “É o todo que é importante, porque, às vezes, as pessoas usam demasiadas coisas maravilhosas juntas e que não combinam; é a forma como se faz a mistura”, termina, lembrando que, acima de tudo, é preciso vestir “atitude”.
Como é que Apfel se tornou um ícone da moda?
Iris Apfel nasceu a 29 de Agosto de 1921, em Nova Iorque. Filha única de Samuel Barrel, que trabalhava em joalharia, e de Sadye Barrel, que comercializava roupas para mulheres, Apfel desde cedo teve um contacto próximo com o mundo da moda e acessórios. Com a idade o gosto não desvaneceu e estudou História da Arte na Universidade de Nova Iorque.
O percurso profissional de Iris foi, depois, tão diverso quanto o seu estilo: trabalhou na Women’s Wear Daily, a conhecida revista de moda norte-americana; como decoradora de interiores com Elinor Johnson; ou como assistente do ilustrador Robert Goodman. Até que, em 1948, o casamento com Carl Apfel (1914-2015) lhe abriu novas portas. Os dois criaram juntos a tecelagem Old World Weavers, cuja gestão mantiveram até à década de 1990, quando se reformaram. Paralelamente, entre as décadas de 1950 e 1990, Iris Apfel foi responsável por vários projectos de decoração e restauro, nomeadamente para a Casa Branca.
Mesmo sendo ela a decidir como era, por dentro, a residência mais importante dos EUA, manteve-se anónima até ser descoberta, em 2004, pelo Metropolitan Museum of Art com uma exposição, comissariada pelo conhecido curador Stéphane Houy-Towner. O sucesso foi tal que não só a mostra foi montada diversas vezes, em distintas localizações, nos anos que se seguiram, como culminaria noutras distinções: capas de revistas, o lançamento do livro Rare Bird of Fashion – the Irreverent Iris Apfel (edição da Thames & Hudson Ltd, sem tradução em português) e o prémio Ícone Global de Estilo da conhecida consultora de tendências WGSN.
Em 2019, integrou a secção de Moda e Design do conhecido Peabody Essex Museum, em Salem, Massachusetts, com uma instalação que incluía acessórios e roupas da própria e objectos históricos. Também não é a primeira vez que Iris Apfel assina uma colecção de roupa inspirada no seu estilo — em 2016 fê-lo com os armazéns nova-iorquinos Macy’s. Quase a celebrar 101 anos, resta saber o que ainda estará por vir.