Covid-19: escolas ainda não reabriram totalmente em 23 países do mundo, adianta Unicef
Unicef apresenta evidências de que uma percentagem substancial de crianças não voltou à escola após a reabertura, nomeadamente na Libéria (43%), no Uganda (10%) e no Quénia (16%). Crianças que não frequentam escolas são as menos capazes de ler, escrever ou fazer contas básicas, e estão isoladas da rede de segurança que as escolas oferecem, o que as coloca num risco acrescido de exploração e numa vida inteira de pobreza e privação.
Quase 147 milhões de crianças perderam mais de metade da sua escolaridade presencial nos últimos dois anos devido à pandemia e, dois anos depois, as escolas ainda não reabriram totalmente em 23 países do mundo, alerta esta quarta-feira a Unicef.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Quase 147 milhões de crianças perderam mais de metade da sua escolaridade presencial nos últimos dois anos devido à pandemia e, dois anos depois, as escolas ainda não reabriram totalmente em 23 países do mundo, alerta esta quarta-feira a Unicef.
Intitulado “Are children really learning?” ("as crianças estão realmente a aprender?”), no relatório da agência das Nações Unidas para as crianças alerta-se que a perturbação que a pandemia provocou na educação agravou uma “crise educativa global que já ameaçava o futuro de milhões de crianças em todo o mundo”, segundo escreve a directora executiva da Unicef, Catherine Russell, na introdução do documento.
Segundo a organização, o número de alunos fora da escola aumentou, pela primeira vez desde que há dados, em 5,9 milhões entre 2018 e 2020.
Com a pandemia, revelam os números da Unicef, a situação agravou-se ainda mais: na África do Sul o número de alunos fora da escola triplicou de 250.000 para 750.000 entre Março de 2020 e Julho 2021, enquanto no Maláui, a taxa de abandono escolar entre raparigas no ensino secundário aumentou 48%, de 6,4% para 9,5% entre 2020 e 2021.
Além disso, a organização apresenta evidências de que uma percentagem substancial de crianças não voltou à escola após a reabertura, nomeadamente na Libéria (43%), no Uganda (10%) e no Quénia (16%).
Ainda esta quarta-feira, alerta-se no relatório, as escolas continuam total ou parcialmente encerradas em 23 países, agravando o risco de mais abandono escolar.
Segundo a análise, as crianças que não frequentam escolas são as menos capazes de ler, escrever ou fazer contas básicas, e estão isoladas da rede de segurança que as escolas oferecem, o que as coloca num risco acrescido de exploração e numa vida inteira de pobreza e privação.
Numa análise de dados recolhidos entre 2017 e 2021 em 32 países e territórios de baixo e médio rendimento, a Unicef conclui que mesmo antes da pandemia era questionável se os alunos estavam realmente a aprender.
A manter-se o ritmo actual de aprendizagem, a maioria das crianças em idade escolar levaria sete anos a aprender competências de leitura fundamentais que deveriam ter sido apreendidas em dois anos, e demoraria 11 anos a aprender competências de numeracia fundamentais.
Mesmo antes da pandemia, nos 32 países e territórios estudados, um quarto das crianças do 8.º ano de escolaridade – cerca de 14 anos de idade – não tinha competências de leitura básica e mais de metade não tinha competências de numeracia esperadas de um aluno da 2.ª classe, cerca de 7 anos de idade.
Na maioria dos países da África subsaariana analisados, menos de uma em cada dez crianças tinha as competências fundamentais esperadas para a sua idade.
Para a directora-executiva na Unicef, “em vez de ser o grande equalizador, a educação corre o risco de ser o grande divisor”.
“Não podemos continuar a falhar a uma geração inteira de estudantes”, escreve Russel, pedindo um esforço global, urgente e concertado, para fazer da educação uma prioridade de topo nos planos de recuperação pós-covid-19.
“À medida que a pandemia entra no seu terceiro ano, não podemos dar-nos ao luxo de voltar ao ‘normal’. Precisamos de um novo normal: colocar as crianças nas salas de aula, avaliar onde estão na sua aprendizagem, fornecer-lhes o apoio intensivo de que necessitam para recuperar o que perderam, e assegurar que os professores tenham a formação e os recursos de aprendizagem de que necessitam. Os riscos são demasiado elevados para fazer algo menos”, avisa Russell.