Acumulação de gases na mina de Neves Corvo causou a morte de um mineiro

Outro mineiro que foi em socorro do que perdeu a vida também ficou inanimado. A causa da morte estará associada à inalação de monóxido de enxofre, que deixa os lábios doces e provoca ardor nos olhos.

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Trabalho na mina foi suspenso ADRIANO MIRANDA

Às 00h59 desta quarta-feira, o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) de Castro Verde recebeu uma chamada para socorrer um mineiro que se encontrava em paragem cardiorrespiratória no posto médico da mina de Neves Corvo. Filipe Venâncio, de 43 anos, desempenhava as funções de chefe de turno e terá morrido por inalação de monóxido de enxofre.

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Às 00h59 desta quarta-feira, o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) de Castro Verde recebeu uma chamada para socorrer um mineiro que se encontrava em paragem cardiorrespiratória no posto médico da mina de Neves Corvo. Filipe Venâncio, de 43 anos, desempenhava as funções de chefe de turno e terá morrido por inalação de monóxido de enxofre.

Nos esclarecimentos prestados ao PÚBLICO por Luís Cavaco, coordenador do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mineira (STIM), a causa da morte “pode estar associada à inalação de monóxido de enxofre”. O sindicalista refere que, apesar de a presença deste gás se notar, quando se fica “com os lábios doces e os olhos com ardor”, desconhecem-se ainda os contornos do “triste” acontecimento que mais uma vez afectou “o povo mineiro”.

A informação que lhe foi possível recolher após contactos com a administração da Somincor – empresa de exploração mineira sueco-canadiana que detém a concessão do couto mineiro de Neves Corvo para produzir concentrados de cobre, zinco e chumbo apenas aponta que “as causas do acidente estão a ser apuradas”.

Segundo os dados a que foi tendo acesso, Luís Cavaco refere que Filipe Venâncio chegou ao local de trabalho com a sua equipa após uma explosão ocorrida no turno anterior, procedimento que provoca a acumulação de gases. O mineiro terá procurado obter informações sobre as condições de segurança na galeria onde tinha ocorrido a explosão, mas deixou de responder às chamadas via rádio que o operador de máquina da sua equipa estava a fazer.

Preocupado com o silêncio, o colega foi tentar perceber o que se passava, mas também ele deixou de comunicar via rádio. Um terceiro elemento da equipa receou que algo de grave se estava a passar e encontrou o colega inanimado. Retirou-o do local e este recebeu imediatamente oxigénio, tendo reagido positivamente. Porém, quando chegaram junto de Filipe Venâncio, e apesar dos esforços feitos, não foi possível reverter a paragem cardiorrespiratória. O acidente terá ocorrido entre as 23h e as 24h, presume Luís Cavaco.

“Aquilo são gases que nos paralisam logo”, observou o coordenador do STIM, que diz estar a aguardar por informação actualizada “pois não há (às 13h) dados mais concretos, está tudo em averiguações”, acrescenta.

Através de comunicado, a administração da Somincor lamenta a morte de Filipe Venâncio “na sequência de um incidente registado de madrugada no fundo da mina de Neves Corvo”. A nota acrescenta que estão “profundamente chocados e entristecidos com a sua morte” e que os seus “pensamentos estão com a sua família neste momento difícil”, à qual estão a dar “todo o apoio possível”.

Uma equipa da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) já está a investigar as causas do incidente.

Na sequência do acidente, a Somincor decidiu “voluntariamente” suspender as actividades da empresa até indicação contrária. Num outro acidente ocorrido há ano e meio, a actividade mineira esteve parada durante cinco dias.

O PÚBLICO tentou ouvir a administração da Somincor, mas não foi possível realizar o contacto.