Designer ucraniana troca vestidos de noiva por vestes militares: “Parámos de contar depois das 2000 peças”
A CEO de uma casa de vestidos de noiva ucraniana não parou as máquinas de costura com a guerra, mas alterou a produção. E, um dia depois do início da invasão das forças russas, já estava a criar redes militares, recordou ao PÚBLICO.
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Ulyana Kyrychuk tem 35 anos e há oito juntou-se à Milla Nova, uma casa especializada em vestidos de noiva, com sede em Lviv, Ucrânia, mas com criações espalhadas pelo mundo, Portugal incluído (na Noivas D. Dinis, em Leiria, e Momentus by Cristina Campos, em Vila do Conde). Foi, aliás, em Portugal que uma das colecções da casa, fundada em 2014, se inspirou, mais precisamente em Sintra. Agora, porém, o foco deixou de ser os casamentos para passar a ser a guerra.
“Decidimos ajudar desde o primeiro dia”, declara a CEO da Milla Nova ao PÚBLICO, explicando que “parte da equipa concentrou-se na deslocalização para Varsóvia, [Polónia], e a fixação do processo comercial, e outra parte começou a gerir o projecto de ajuda humanitária”.
Um dia depois do início da invasão das forças russas, “a 25 de Fevereiro, comprámos materiais para fazer redes militares”, recorda, sublinhando que a iniciativa veio dar alento a quem trabalha para a empresa, mas também a quem a gere. “As pessoas ficaram muito positivas, pois é a sua forma de ajudar o país neste momento difícil. Para nós também foi bom, uma vez que [os funcionários] se mantêm protegidos, unidos.”
Assim que começaram com as redes militares, a novidade espalhou-se e os pedidos não se fizeram esperar. “Começámos a receber novas encomendas de coisas diferentes: roupa interior, coletes, protecções médicas.” E a quantidade foi-se acumulando: “Parámos de contar depois das duas mil peças.”
Actualmente, “toda a equipa está a trabalhar e toda a gente a contribuir diariamente, com cada funcionário a fazer uma a duas peças todos os dias, dependendo da complexidade e das necessidades”.
Ulyana, que falou com o PÚBLICO a partir da capital polaca, esteve na Ucrânia na semana passada, uma vez que, explica, de forma a conseguir gerir todo o processo se vê obrigada a viajar de um lado para o outro e a estar com um pé em cada país. Já a família, incluindo a mãe, mantém-se no país em guerra. “Estou em contacto constante com todos eles, mas não falamos da guerra ou de coisas negativas, apenas de amor em mudança, bom progresso, ideias para ajudar e planos para o futuro.” E no futuro Portugal volta a estar em cima da mesa: “Quero visitar o Porto e a Madeira; estão na minha lista.”
A Milla Nova, com vestidos em boutiques de noivas em 50 países, incluindo os EUA, Reino Unido, França e China, emprega actualmente mais de 600 pessoas, 98% das quais mulheres. A maioria da força laboral reside em Lviv, tendo a empresa dado a opção aos funcionários de se mudarem para a vizinha Polónia. As mulheres que saíram da cidade ucraniana e que eram mães levaram consigo os filhos.