Conselheiro de Putin demite-se por causa da guerra na Ucrânia e abandona a Rússia

Anatoli Chubais, de 66 anos, tornou-se o oficial de mais alto nível a romper relações com o Kremlin por causa da invasão da Ucrânia.

Foto
O enviado especial para o clima russo Anatoli Chubais e Vladimir Putin Getty Images

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.


O enviado especial para o clima russo Anatoli Chubais demitiu-se e abandonou o país, justificando a decisão com a sua oposição à guerra do Presidente Vladimir Putin na Ucrânia, segundo duas pessoas próximas. Chubais tornou-se o oficial de mais alto nível a romper relações com o Kremlin por causa da invasão.

Chubais, de 66 anos, é um dos poucos reformadores económicos da década de 1990 que permaneceu no Governo de Putin e manteve relações próximas com autoridades ocidentais. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, não respondeu imediatamente a um pedido de comentário sobre esta demissão.

Conhecido como o arquitecto das privatizações da Rússia nos anos 1990, Chubais deu a Putin o seu primeiro cargo no Kremlin em meados de 1990 e, inicialmente, saudou a sua ascensão ao poder no final daquela década. Sob a alçada de Putin, Chubais assumiu cargos importantes em grandes empresas estatais até que o Presidente russo o nomeou enviado especial para o desenvolvimento sustentável no ano passado.

Chubais anunciou a sua demissão numa carta endereçada a colegas e amigos na terça-feira, segundo pessoas que viram o documento. Na semana passada, tinha feito uma publicação no Facebook no aniversário da morte de Iegor Gaidar, na qual afirmava que o colega reformador económico “entendeu os riscos estratégicos melhor” do que Chubais, que “estava errado”.

No seu livro publicado em 2006, Morte do Império, Gaidar alertou para as tentações da nostalgia imperial pela União Soviética que ele viu crescer sob a alçada de Putin. “Não é difícil convencer a sociedade de que um Estado que ruiu tão repentinamente pode ser reconstruído com a mesma rapidez”, escreveu Gaidar. “Isso é uma ilusão, uma [ilusão] perigosa.”

Desde o início da guerra, o Governo russo intensificou a pressão sobre os críticos internos da invasão. Putin alertou, a 16 de Março, que limparia a Rússia da “escória e traidores” que acusa de trabalharem secretamente para os EUA e seus aliados. Enfrentando o colapso económico, o dirigente russo acusou o Ocidente de querer destruir a Rússia.

“Qualquer povo, e particularmente o povo russo, será sempre capaz de distinguir os patriotas da escória e dos traidores e cuspi-los como um mosquito que acidentalmente voou para as suas bocas”, disse Putin. “Estou convencido de que essa autolimpeza natural e necessária da sociedade só fortalecerá o nosso país, a nossa solidariedade, coesão e prontidão para enfrentar qualquer desafio.”

Na semana passada, Arkadi Dvorkovich, que foi consultor económico de Dmitri Medvedev durante a sua Presidência e vice-primeiro-ministro até 2018, deixou o cargo de dirigente do fundo de tecnologia Skolkovo, apoiado pelo Estado, após condenar a invasão. Dvorkovich, que também é presidente da Federação Internacional de Xadrez, foi um dos poucos ex-altos funcionários a manifestar-se contra a guerra.