Laboratório de alta segurança do INSA ainda hoje analisa amostras suspeitas de antraz

Pedidos chegam normalmente através das PJ ou outras forças policiais, mas já não se trata de ameaças de bioterrorismo.

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Imagem ao microscópio da bactéria do antraz ANTHRAX VACCINE IMMUNIZATION PROGRAM/AFP

O laboratório de alta segurança biológica do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA) ainda hoje analisa amostras suspeitas de antraz, o “pó branco” que aterrorizou o mundo, mas que agora são mais “um acto de revolta do que de terrorismo”.

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O laboratório de alta segurança biológica do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA) ainda hoje analisa amostras suspeitas de antraz, o “pó branco” que aterrorizou o mundo, mas que agora são mais “um acto de revolta do que de terrorismo”.

Esta unidade de resposta a emergências do INSA foi criada em 2001 após o surgimento nos Estados Unidos de envelopes contaminados com antraz, que causaram várias mortes.

O envio destes envelopes foi feito após os ataques terroristas do 11 de Setembro de 2001. Na altura, por todo o mundo e em Portugal registaram-se inúmeros alertas para envelopes alegadamente contaminados. Em Portugal todos foram falsos alarmes.

No entanto, ainda hoje chegam ao laboratório pedidos, um ou dois por ano, para analisar suspeitas de “pó branco” em cartas, bem como malas, contentores ou pacotes abandonados nos aeroportos e nas estações de comboio para excluir a presença de agentes biológicos.

Os pedidos de análise chegam normalmente através da Polícia Judiciária, da PSP ou outras forças policiais, mas não se trata de ameaças de bioterrorismo.

“É, por exemplo, algum empregado que esteja insatisfeito com o patrão ou que foi despedido e que resolve pôr desde açúcar, a pó de talco numa carta, o que é nitidamente um acto de revolta e não um acto de terrorismo”, disse à agência Lusa Sofia Núncio, coordenadora da Unidade de Resposta a Emergências e Biopreparação (UREB).

No laboratório, as investigadoras fazem a inactivação dos vírus ou das bactérias presentes na amostra e fazem a análise molecular, um trabalho que exige que estejam devidamente protegidas.

O processo de vestir o equipamento ("pijama de cirúrgico”, fato de protecção integral, bata, touca, viseira, máscara, dois pares de luvas) demora cerca de 20 minutos e obedece a regras para que seja impossível a contaminação caso seja libertado algum agente.

Para reforçar a segurança, o laboratório dispõe de uma câmara de segurança biológica de luvas que garante que, quando se abre o tubo ou o pacote com a amostra suspeita, não passe nada para fora.

“A câmara de luvas é o que nos permite, por exemplo, estudar as amostras suspeitas de conterem o vírus ébola”, que foram quase uma centena, enumerou Sofia Núncio.

Para que não haja “uma ocorrência acidental”, o INSA tem implementado medidas de biossegurança para garantir que nenhum trabalhador é infectado com algum agente que esteja a ser trabalhado no laboratório.

Têm sido também tomadas medidas de bioprotecção para que ninguém consiga utilizar os agentes estudados e armazenados no INSA para fins de má utilização, nomeadamente de libertação deliberada de estirpes dos vírus e das bactérias mais virulentos.

Sofia Núncio destacou ainda a importância da “cadeia de custódia” quando se faz a investigação de uma suspeita de uma libertação deliberada de armas biológicas, que consiste em assegurar que a amostra que foi colhida no campo é a amostra que chega ao laboratório.

“Não pode haver a menor dúvida. Portanto, vem tudo em envelopes lacrados” e todas as pessoas envolvidas no processo são registadas, revelou.

“Temos que articular muito bem com as equipas de treino, com a Polícia Judiciária, e com quem está a fazer a recolha das amostras para ter a certeza de que quando nos chega nem há radioactividade, nem há explosivos e podemos abrir os pacotes em segurança porque senão corremos o risco de ter aqui um acidente grave”, salientou Sofia Núncio.