Até que ponto irá a Bielorrússia ajudar na guerra de Putin?

Opositora Svetlana Tikhanouskaia diz que a Bielorrússia “está sob ocupação de facto” pela Rússia. Um envio de tropas bielorrussas para a Ucrânia poderá ser possível se Putin o exigir, dizem vários analistas.

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A margem de manobra de Lukashenko para recusar enviar tropas para a Ucrânia será mínima EPA/ANDREI STASEVICH / BELTA / POOL

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Até agora, os únicos bielorrussos a preparar-se para combater na Ucrânia estavam do lado ucraniano: a maioria saiu da Bielorrússia depois das eleições fraudulentas de 2020, que deram a vitória a Aleksander Lukashenko, temendo a onda de repressão e violência contra opositores que se seguiu. Em Odessa, há pelo menos cinco unidades militares bielorrussas.

As movimentações militares que no início da guerra se imaginavam, que o regime bielorrusso mandasse unidades de apoio às tropas russas e entrasse também na Ucrânia não pareciam ter-se concretizado – até agora.

A opositora Svetlana Tikhanouskaia, que reclama ter sido a vencedora real das eleições, disse ao programa Hard Talk da BBC que uma primeira movimentação de tropas teria sido interrompida – não era claro se por ordem de Lukashenko se por oposição dos militares bielorrussos que não terão qualquer interesse em juntar-se à invasão da Ucrânia.

Tikhanouskaia chega a questionar se Lukashneko terá ainda poder total sobre o Exército. Diz que a oposição tem recebido relatos de militares que não querem cumprir qualquer ordem de invasão, e sublinha que “o povo bielorrusso não apoia esta invasão” da Ucrânia pela Rússia.

Lukashenko terá, ele próprio, dito que não haveria tropas bielorrussas na Ucrânia. “Não é preciso.” Mas se há uma semana poderia parecer que não é preciso, o cenário é agora diferente: o Presidente russo, Vladimir Putin, precisa de forças mais numerosas para a próxima fase, que deverá incluir combate nas cidades, nota o Financial Times. Depois de trazer combatentes da Tchetchénia e da Síria, a Bielorrússia é um forte candidato a enviar tropas.

Para Tikhanouskaia, a Bielorrússia precedeu a Ucrânia nos planos de domínio de Putin: “o país está numa ocupação de facto” pela Rússia, disse à BBC. A diferença entre a Bielorrússia e a Ucrânia, continuou, é que “Lukashenko tornou-se colaborador do Kremlin”.

Este sábado, Lukashenko foi citado numa entrevista a uma televisão japonesa dizendo que Putin “está na sua melhor forma de sempre”.

A ajuda da Rússia na supressão das manifestações anti-Lukashenko em 2020 e as sanções europeias que se seguiram à fraude eleitoral e perseguição à oposição deixaram o regime bielorrusso cada vez mais dependente da Rússia. “Lukashenko já não é responsável pelas suas decisões: tem de consultar o Kremlin”, disse Tikhanouskaia, notando que é essa a forma de o ditador pagar a sua dívida por este apoio.

Em várias entrevistas, Tikhanouskaia tem pedido que a opressão na Bielorrússia não seja esquecida, e nota que os bielorrussos também estão a pagar o preço da aliança de Lukashenko com Putin, sendo “tratados como agressores” mesmo quando a população protesta contra a guerra e “luta contra a ditadura” (entre Maio de 2020 e Maio de 2021 foram detidas cerca de 37.000 pessoas na resposta aos protestos contra a fraude eleitoral, segundo a ONU).

Até agora, Lukashenko permitiu que a Rússia usasse o país como plataforma para invadir a Ucrânia e mudou a Constituição para permitir a instalação de mísseis nucleares russos no seu território. A sua margem de manobra para recusar enviar algumas tropas do seu exército de 45 mil será mínima a inexistente, avaliam vários analistas.

Para Michal Baranowski, analista do German Marshall Fund em Varsóvia, a questão da falta de apoio público a uma entrada de tropas bielorrussas na Ucrânia é secundária. “A questão é quanto espaço de manobra é que Lukashenko tem em relação a Putin, e em que grau é um fantoche”, disse ao Financial Times. “Se for um fantoche, esse será o cenário em que veremos as forças bielorrussas a fazer parte do exército russo.”

Katia Gold, especialista em Bielorrússia do Center for European Policy Analysis, diz apenas que “tudo se resume a se Putin decidir que precisa destas forças.”

De qualquer modo, o papel que terão as forças bielorrussas, pouco experientes e com motivação questionável, dificilmente será decisivo, disse também ao Financial Times Mark Cancian, antigo coronel agora no Center for Strategic and International Studies em Washington. A única maneira de realmente ter uma acção decisiva seria “se estivessem dispostos a abrir uma nova frente no lado ocidental”, algo que acarretaria um “alto risco” e que o analista acha improvável.