Portugal Pop apresenta 50 anos de moda portuguesa, que mostram como chegámos até aqui
A identidade da moda portuguesa é dotada de uma enorme multiplicidade, tendo vindo a tranformar-se ao longo do tempo. A exposição inaugura este sábado, pelas 17h, na Casa do Design, em Matosinhos.
Há uma “moda portuguesa"? A exposição “Portugal Pop: A Moda em Português 1970-2020” — que reúne peças que reflectem uma retrospectiva de meio século de história nacional —, inaugura neste sábado, na Casa do Design, em Matosinhos, e apresenta um vasto leque de interpretações sobre a portugalidade na moda, convidando a reflectir sobre como chegamos até aqui.
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Há uma “moda portuguesa"? A exposição “Portugal Pop: A Moda em Português 1970-2020” — que reúne peças que reflectem uma retrospectiva de meio século de história nacional —, inaugura neste sábado, na Casa do Design, em Matosinhos, e apresenta um vasto leque de interpretações sobre a portugalidade na moda, convidando a reflectir sobre como chegamos até aqui.
Com esta exposição, pretende-se apresentar diferentes perspectivas e compreensões da evolução cultural e social, conciliando fusões do novo e do antigo, do rural e do urbano. Bárbara Coutinho, curadora e directora do MUDE — Museu do Design e da Moda, explica ao PÚBLICO, que o objectivo não é “mapear” a história da moda em Portugal nos últimos anos: “Se assim fosse o discurso era cronológico. Teriam de estar aqui estes e outros autores mas também referências várias a entidades, escolas, revistas e outras que foram importantes.”
Portanto, a proposta é esta mostra servir como um ponto de reflexão acerca de como o tempo, em conjunto com a forma como se consome e produz cultura, se reflectiram na moda portuguesa, continua. “Ao mesmo tempo que ela é uma expressão criativa de cada indivíduo, sempre teve uma capacidade enorme de se recriar. E ao mesmo tempo que antecipa, muitas vezes, rupturas e vanguardas, é um espelho da identidade colectiva de um determinado momento”, contextualiza.
Na Casa do Design podem ser vistos 180 coordenados de quase 40 designers de diferentes gerações. As peças “brotam” de núcleos de cortiça e corda que lembram as ligações da cultura à terra e ao mar, mas a curadora salvaguarda que não se pretende atribuir “qualquer valor saudosista”. E sustenta: “A moda vive, hoje, um momento em que está a ser repensada num âmbito global por toda a sua dimensão enquanto fenómeno e indústria.”. Por isso, a ideia é repensar o uso de materiais com história na nossa economia, promovendo o pensamento sustentável e a consciência ecológica. Bárbara Coutinho explica que “não há desperdícios”, estando o design expositivo pensado para se inserir numa economia circular, assegurando que estes materiais vão, posteriormente, ser recuperados.
As peças são assinadas por Alexandra Moura, Alves/Gonçalves, Constança Entrudo, Dino Alves, Helena Cardoso, Filipe Augusto, José Carlos, Luís Buchinho, Maria Gambina, Maria-Thereza Mimoso, Miguel Flor, Nuno Gama ou Storytailors. Além disso, estão expostas algumas referências icónicas da cultura pop portuguesa, nomeadamente coordenados usados por nomes como Amália Rodrigues, António Variações, Doce, Heróis do Mar, The Gift, Joana Vasconcelos, Conan Osíris e Cláudia Pascoal.
A exposição vai estar patente até Setembro. Chegou à Casa do Design através de uma co-produção entre a Câmara Municipal de Matosinhos, a Escola Superior de Artes e Design (ESAD) e a Câmara Municipal de Lisboa, através do MUDE (integrando o programa itinerante Mude Fora de Portas). Esteve a ser preparada ao longo de dois anos e reúne peças de coleccionadores, entidades públicas e originais de inúmeros designers, sejam estes de renome nacional e internacional ou “ilustres desconhecidos”. Bárbara Coutinho, descreve a experiência como um “trabalho muito colaborativo” que permite dar a conhecer às gerações mais novas o trabalho de vários artistas que participaram e impactaram a história da moda.
Gravar o legado para as gerações futuras
Maria Gambina é uma das designers apresentadas na exposição, ao PÚBLICO, adianta que nas suas peças, mesmo inconscientemente, “sempre utilizou coisas portuguesas” — sejam referências ou materiais —, inspirada pela influência de “uma cultura muito rica”. Apesar de os artistas terem “identidades muito distintas”, sente a presença de um “fio condutor que realmente demonstra que temos um grande respeito pela nossa cultura”.
A criadora partilha também que “nunca fez as peças a pensar que, um dia, iam estar numa exposição ou num museu”, mas considera iniciativas como esta importantes para “a nova geração ter acesso ao que foi feito antes dela”. Serve para contrariar a ideia de que “não existe moda em Portugal” e mostrar que já havia “pessoas com visão”. E conclui: “Para mim isso é o mais importante. A nova geração ter acesso ao trabalho de todos aqueles que lutaram, e muito, para que eles hoje tenham uma vida mais facilitada.”
Na semana em que a moda se mostra no Porto com o Portugal Fashion, Maria Gambina visitou a exposição numa comitiva levada pela organização do certame. Este ano, em que celebra 30 anos de carreira, a designer não apresenta a sua proposta na Alfândega do Porto porque precisa de “fazer as coisas a seu tempo”, confessa. Não descurando todo o apoio que recebeu da plataforma e o respeito que sente pela mesma, explica que “sabe perfeitamente” qual é o seu caminho. Agora que a sua marca tem alguma maturidade, “não é por não apresentar no Portugal Fashion” que a colecção da estação “vai deixar de aparecer”, adiantando que tem planos para a mostrar brevemente.
Texto editado por Bárbara Wong