Com a aprovação da comissão de toponímia, Gisberta está mais perto de ter uma rua no Porto
Com sete votos a favor e seis contra, o nome da mulher trans brasileira assassinada na cidade há 16 anos entrou finalmente para a bolsa de nomes da comissão de toponímia da Câmara Municipal do Porto.
Na primeira reunião da renovada comissão de toponímia da Câmara Municipal do Porto, foi aprovado o nome de Gisberta Salce Júnior, mulher transexual emigrante brasileira assassinada no Porto em 2006, para integrar a bolsa de nomes que futuramente podem ser atribuídos às ruas do Porto.
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Na primeira reunião da renovada comissão de toponímia da Câmara Municipal do Porto, foi aprovado o nome de Gisberta Salce Júnior, mulher transexual emigrante brasileira assassinada no Porto em 2006, para integrar a bolsa de nomes que futuramente podem ser atribuídos às ruas do Porto.
Não era a primeira vez que a comissão votava o nome de Gisberta, nem a segunda. A ideia de dar o seu nome a um arruamento da cidade já foi objecto de várias petições, mas na quinta-feira à tarde, depois de “uma votação renhida”, nas palavras do historiador de arte Nuno Resende, um dos novos membros da comissão, Gisberta ficou mais perto de poder ter o seu nome associado à toponímia do Porto.
“O nome de Gisberta foi aprovado por sete votos contra seis”, contou ao PÚBLICO Nuno Resende, revelando que foi dos que votou a favor. A “grande divisão” da votação foi confirmada por Artur Ribeiro, ex-deputado municipal da CDU, que também é um dos novos membros da comissão cuja nova composição foi aprovada pelo Executivo camarário de Rui Moreira em Janeiro. Artur Ribeiro não quis revelar o sentido do seu voto.
O historiador lembrou que a comissão, presidida por Isabel Ponce de Leão, tem um regulamento “pouco permissivo” e por isso foi necessário uma primeira votação para saber se o pedido com uma história de mais de dez anos - o primeiro abaixo-assinado data de 2010 -, podia ser apreciado. As regras foram feitas a pensar em pessoas que nasceram no Porto e tenham feito algo de notório pela cidade. Com os mesmos votos a favor e contra, foi aprovada a possibilidade de apreciar o pedido, o que poderá vir a resultar numa alteração futura do regulamento.
Chegou-se, então, à segunda votação que tinha de decidir se o nome de Gisberta podia entrar na bolsa de nomes a partir da qual se baptizam os futuros arruamentos. “O resultado foi claro. O nome de Gisberta ficará agora em lista de espera para quando surja uma nova artéria. Nessa altura, deverá haver uma nova votação da comissão. Por isso, ainda vai demorar, porque há poucos arruamentos novos.”
Nuno Resende lembrou ainda que a comissão de toponímia é um órgão consultivo da Câmara Municipal do Porto e que a decisão tem agora de ser aprovada pelo Executivo camarário. Recorde-se que em 2010, quando a primeira petição foi entregue, o actual presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, votou a favor da atribuição de um arruamento a Gisberta. Depois da reunião de quinta-feira, Rui Moreira “ficou muito satisfeito” com o resultado da comissão renovada, disse fonte próxima do presidente ao PÚBLICO, frisando, no entanto, que a câmara não se quer imiscuir nos trabalhos da comissão.
Satisfeito igualmente com o resultado, mesmo que “só por um voto”, ficou Joel Cleto, historiador e divulgador, também um novo membro da comissão. “Entendo que o Porto é uma cidade solidária, das tripas, que sempre soube sofrer por valores liberais. Caracteriza-se mais por esses braços abertos do que pela intolerância e era importante demarcar-se do que aconteceu a Gisberta. É simbólico.”
Gisberta, que foi morta de uma maneira brutal por um grupo de 14 rapazes há mais de 15 anos, tornou-se um símbolo da luta contra a transfobia e a homofobia.
“Acho que se fez alguma justiça”, comentou ainda Nuno Resende. “A cidade não é apenas repositório de um passado bom, é um repositório de tudo, do bom e do mau. É preciso sobretudo que o mau sirva de exemplo para o futuro.”
Notícia alterada às 18h: corrige o nome de Joel Cleto, erradamente grafado como José Cleto