Os animais estão a ser deixados para trás, em Hong Kong, devido às restrições da covid-19
Nas últimas semanas, mais de 100 mil pessoas deixaram Hong Kong. Quem quer viajar de avião com os animais de companhia enfrenta menos opções, listas de espera mais longas e custos de até dezenas de milhares de dólares. Muitos optam por abandonar os animais, deixando os abrigos sobrecarregados.
No Centro de Resgate de Animais de Hong Kong, Eva Sit ajoelha-se e chama pelos residentes mais recentes do abrigo, o “amigável e brincalhão” Cassius e o “tímido” Roxy, dois cães deixados para trás pelos donos que emigraram.
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No Centro de Resgate de Animais de Hong Kong, Eva Sit ajoelha-se e chama pelos residentes mais recentes do abrigo, o “amigável e brincalhão” Cassius e o “tímido” Roxy, dois cães deixados para trás pelos donos que emigraram.
As últimas semanas têm sido caóticas para Sit e os colegas, com dados do Governo a mostrar que mais de 100 mil pessoas deixaram Hong Kong só este ano. Enquanto a maior parte do mundo está a aprender a viver com a covid-19, os residentes de Hong Kong estão a ficar cada vez mais frustrados com a política de tolerância zero que vigora na China, onde uma “estratégia de zero covid” tem resultado em restrições fortes.
À medida que as companhias aéreas reduzem o número de voos de e para Hong Kong devido aos requisitos apertados de quarentena, quem quer viajar com os animais de companhia enfrenta menos opções, listas de espera mais longas e custos de até dezenas de milhares de dólares. Muitos optam por abandonar os animais de estimação, deixando os abrigos sobrecarregados.
“Temos visto um aumento do número de donos de cães que os abandonam porque se vão mudar”, disse Sit. “Com a covid-19 é mais difícil do que nunca viajar com um animal.”
Cassius e Roxy foram levados para o abrigo a 3 de Março por uma empregada doméstica cujos empregadores viajaram para casa, no Reino Unido, há já algum tempo, e decidiram não voltar a Hong Kong. “Quando a empregada veio cá deixá-los, chorou muito porque gostava muito deles”, disse. “Ela tinha tomado conta dos cães desde que eram cachorros. E não é responsabilidade dela, mas sim dos empregadores.”
Não há números oficiais que mostrem quantos animais de companhia estão a ser abandonados. O número de certificados de saúde de animais emitidos pelo Governo, um documento necessário para que estes possam viajar, mas nem sempre emitido por essa razão, aumentou para quase 9000 em 2021, depois de em 2020 se ter ficado pelos 3700. Cerca de 1500 destes certificados já foram emitidos nos primeiros dois meses de 2022, revelou o Departamento de Agricultura, Pescas e Conservação, que não comentou uma possível razão para este aumento.
A Pet Export Vet, uma agência de viagens especializada, informou que recebeu três a quatro vezes mais pedidos nos últimos dois a três meses e deixou de aceitar reservas temporariamente. A Ferndale Kennels and Cattery, outra agência do género, ainda aceita reservas, mas diz que os preços estão “altíssimos” e os procedimentos para viajar estão cada vez mais complexos devido à instabilidade dos horários dos voos.
Hong Kong tem uma média de saída de 40 mil pessoas em Março, até à data, comparada com mais de 71 mil em Fevereiro, o mês com mais saídas desde o início da pandemia, mostram os dados do Governo. Não se sabe quantos pensam em voltar.
Sit adiantou que o Centro de Resgate de Animais de Hong Kong acolhe dez cães abandonados, em média, por mês (antes da covid-19, a média era cinco), e está a ficar sem espaço agora que há cada vez menos pessoas a adoptar.
“Todas as instituições solidárias estão sobrecarregadas”, disse Kirsten Mitchell, fundadora do Kirsten’s Zoo, outro centro de resgate. “As pessoas entregam peixes-dourados, tartarugas, não só gatos e cães.”
Claire McLennan, uma australiana de 48 anos voltou para casa em Dezembro por razões familiares, tem tentado tratar da viagem da sua cadela Remi, que ficou em Hong Kong numa espécie de hotel para cães. “A Remi deveria ter vindo em Janeiro, depois em Fevereiro e em Março; agora, estamos à espera de saber se a Qantas vai retomar o transporte de animais de estimação em Abril”, contou McLennan. “Ela faz parte da nossa família. É muito triste e difícil para as crianças.”