Música, bandeiras e um estádio apinhado para aplaudir Putin e a invasão da Ucrânia

Milhares de russos encheram o Estádio Luzhniki, em Moscovo, num evento altamente patriótico e propagandista de celebração do aniversário da anexação da Crimeia e da “operação militar especial” no país vizinho. “Sabemos o que temos de fazer”, garantiu o Presidente.

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O Estádio Luzhniki, em Moscovo, transformou-se nesta sexta-feira num palco de exaltação patriótica e de celebração dos feitos militares da Federação Russa na Ucrânia.

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O Estádio Luzhniki, em Moscovo, transformou-se nesta sexta-feira num palco de exaltação patriótica e de celebração dos feitos militares da Federação Russa na Ucrânia.

Dezenas de milhares de pessoas – 200 mil, segundo a organização do evento – juntaram-se no recinto desportivo para um evento de celebração do oitavo aniversário da anexação da península da Crimeia e de Sebastopol e de demonstração de apoio à invasão do país vizinho, oficialmente designada pelo Kremlin como uma “operação militar especial”.

Nos ecrãs gigantes do estádio de futebol – que foi onde se jogou, por exemplo, a final do último Campeonato do Mundo, em 2018 – passaram vídeos de teor nacionalista, que incluíram imagens do derrube de uma bandeira da Ucrânia.

Nas bancadas agitaram-se bandeiras da Rússia, com as cores branca, azul e vermelha; e com a letra “Z”, que figura em muitos dos tanques russos que atacam e bombardeiam, neste momento, a Ucrânia.

Entre os slogans nos cartazes exibidos no evento havia frases como “por um mundo sem nazismo” ou “pelo nosso Presidente”. E gritou-se: “Rússia, Rússia, Rússia!”

No palco, depois das actuações de cantores como Oleg Gazmanov, Nikolai Rastorguev ou Polina Gagarina, e dos discursos de apresentadores de televisão, de jornalistas, de militares e de líderes políticos, todos próximos do Kremlin, Vladimir Putin vestiu a pele de cabeça-de-cartaz.

“Sabemos o que temos de fazer, como fazê-lo e com que custos. E vamos cumprir totalmente todos os nossos planos”, afiançou o Presidente da Rússia, numa aparição pública rara e numa intervenção elogiosa para os soldados russos que combatem na Ucrânia em nome da “desnazificação” do país e da luta contra o “genocídio” das populações russófilas no território.

“Ombro com ombro, eles ajudam-se uns aos outros, apoiam-se uns aos outros e, se for necessário, protegem-se uns aos outros das balas, com os seus corpos, como irmãos”, celebrou Putin, citado pela Reuters.

Afastando os relatos de que a ofensiva russa na Ucrânia não estaria a correr como planeado, Putin citou a Bíblia, poetas históricos eslavos e soldados lendários russos para insistir na confiança que tem no sucesso da operação militar e garantir: a Rússia está mais unida do que nunca.

“Há muito tempo que não víamos esta união”, congratulou-se o chefe de Estado russo.

O exercício de propaganda só foi manchado por uma interrupção abrupta do discurso de Putin e da colocação no ar de imagens de uma actuação musical anterior – “problemas técnicos num servidor”, foi a explicação oficial.

Das imagens e dos sons que chegaram a partir da transmissão televisiva, o entusiasmo da população pareceu ser total e genuíno. Os jornalistas ocidentais presentes no evento relatam, no entanto, que falaram com muitos participantes que dizem que foram aconselhados ou obrigados pelos seus empregadores ou professores a marcar presença no Estádio Luzhniki.

Segundo Max Seddon, correspondente do Financial Times em Moscovo, há relatos de que vários funcionários públicos viajaram até à capital em autocarros disponibilizados pelo Governo.

“Estudantes disseram-nos que lhes foi dada a opção de terem um dia livre de aulas se fosse a um ‘concerto’”, acrescenta Will Vernon, da BBC. “Alguns nem sabiam que o evento era dedicado, em parte, ao apoio à guerra na Ucrânia”.