É só virar o M na grelha: já está ao lume o McDonald’s russo?
O M encosta-se, faz-se B, que em cirílico é V de Vanya, Tio Vanya. Pedido de patente de clone da McDonald’s, que abandonou a Rússia, tornou-se viral. Mas a empresa que detém a marca deste tio à Tchékhov diz que nada tem a ver com o assunto: “Fake”, já avisou.
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A McDonald's fechou 850 locais com a marca na Rússia duas semanas após a invasão da Ucrânia. Tornou-se uma suspensão “icónica” e, a par de centenas de empresas que abandonaram o país conforme eram lançadas sanções, sucederam-se as críticas e ameaças do Governo russo.
No Parlamento russo falou-se de criar uma rede que substituísse a fábrica de hambúrgueres norte-americana e surgiu entretanto um pedido de patente com um logótipo que não engana ninguém, muito pelo contrário. Os arcos em M da McDonald's inclinam-se 90 graus para a direita e tornam-se visualmente um B, que no alfabeto cirílico corresponde ao V: a marca que surge como candidata ao trono dos hambúrgueres chama-se Tio Vanya. Detalhe: a empresa que detém esta marca, uma gigante russa de venda de vegetais em conserva, diz que nada tem a ver com o assunto.
O ficheiro com as informações relativas ao pedido de registo do “clone” da McDonald's tem a data de 12 de Março e corresponde a dados da Rospatent, Serviço Federal Russo para Propriedade Intelectual. A notícia foi avançada esta quinta-feira pela agência de notícias RIA Novosti, que pertence ao Governo russo.
“A Rússia terá uma marca Tio Vanya com logótipo semelhante ao da McDonald's”, titula a RIA Novosti, referindo que “um fabricante de conservas alimentares está a conceber a marca comercial Dyadya Vanya [adaptação do cirílico]”, indicando a empresa-mãe desta denominação, a Ruspole Brands, e garantindo que foi entregue o pedido de patente tal como se vê à Rospatent. “O requerente pretende registar a sua marca” na classe de classificação para “cafetarias, cafés, restaurantes, serviços de bar, cantinas, cozinha ao domicílio e serviços de entrega, etc.” “O pedido ainda está pendente”, acrescenta-se.
Mas já esta sexta, a Tio Vanya (Дядя Ваня), que vai buscar a sua inspiração de baptismo à clássica peça de teatro homónima do mestre Anton Tchékhov, publicou no seu site uma imagem com Falso (Fake) sobre o suposto logo que troca o M pelo B/V e ameaçou processar quem ousar usar o seu bom nome para uma guerra de propriedade intelectual.
O comunicado é peremptório: “Informamos que as entidades legais da Ruspole Brands e da marca Tio Vanya não têm qualquer relação com o logótipo, criado como um clone, utilizando a letra M invertida da cadeia de fast-food McDonalds, que tem a forma da letra B em cirílico. A informação divulgada na Internet sobre os alegados planos para substituir a marca McDonald's pela marca Tio Vanya, de nossa propriedade, é falsa.”
A nota, publicada no site oficial da empresa (apenas em russo, não surge na versão internacional da página), deixa também uma promessa: "as pessoas que utilizarem a marca Tio Vanya nas suas imagens no campo dos serviços de restauração podem ser sujeitas a um pedido de indemnização”. E uma garantia, que porém deixa no ar um ‘mas’ de portas abertas: “A empresa não está actualmente a considerar lançar uma cadeia de estabelecimentos de restauração, mas não desiste de tal ideia no futuro”. O caso tem todos os ingredientes para deixar muita gente de água na boca à espera das próximas batatas fritas a entrarem na história.
No Parlamento russo, Viacheslav Volodin, presidente daquele órgão legislativo, já discursara a favor de substituir a cadeia americana, que “usa matérias-primas russas”, por uma “cadeia doméstica": “Amanhã já não deveria haver McDonald's, mas sim o Tio Vanya's”, declarou a 10 de Março, referindo que todos os empregos deveriam ser mantidos. A McDonald's emprega 62 mil pessoas no país e, apesar do “encerramento temporário” dos restaurantes, garantiu que continuaria a pagar os salários.
Nos discursos mais bélicos de comentário ao encerramento de empresas internacionais na Rússia, o Governo ameaçou ignorar patentes ligadas aos países considerados hostis. Putin falou num possível plano para nacionalizar as empresas que decidiram abandonar ou suspender actividade no país.