Paulo Rangel: “Este não é o momento para ser candidato”
O eurodeputado mostra-se disponível para colaborar com a próxima liderança do PSD, mas exclui-se da corrida à sucessão de Rui Rio. Em entrevista ao PÚBLICO e à Rádio Renascença, Paulo Rangel admite que o trabalho de reconstrução do partido é “difícil”.
Paulo Rangel, 54 anos, perdeu contra Rui Rio em Novembro passado mas acredita que o resultado do PSD nas legislativas de Janeiro “seria diferente” se nessa altura tivesse ganho a corrida. Não se pronuncia sobre “proto-candidatos” à liderança nem sobre se gostaria de cumprir mais um mandato – o quarto – no Parlamento Europeu.
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Paulo Rangel, 54 anos, perdeu contra Rui Rio em Novembro passado mas acredita que o resultado do PSD nas legislativas de Janeiro “seria diferente” se nessa altura tivesse ganho a corrida. Não se pronuncia sobre “proto-candidatos” à liderança nem sobre se gostaria de cumprir mais um mandato – o quarto – no Parlamento Europeu.
Quando perdeu as directas disse que não antevia voltar a ser candidato. Mantém essa posição ou vê espaço para avançar?
Havia espaço para avançar, não tenho dúvidas, de que existia, mas tal como eu disse é um processo muito fresco, foi há quatro meses e neste momento não devo ser candidato.
Porquê?
Não posso estar a candidatar-me de quatro em quatro meses. Nunca tive a ambição de ser líder do PSD no sentido em que isso é o alfa e o ómega da minha vida como acontece com alguns políticos em Portugal em vários partidos.
Agora não havia condições?
Não é questão de não haver condições, é a questão de eu achar que não sou a pessoa indicada neste momento. Não faltou estímulo para que fosse candidato, em parte esta declaração que estou a fazer também se destina a isso. Penso que este não é o momento. Faz sentido agora dar espaço a outros.
Duas derrotas também pesaram na sua decisão?
Sou um grande democrata e um democrata disciplinado. Não sou uma pessoa que me deixe abater com derrotas. Acho que devem ser outro ou outros a tomar essa dianteira. Mas claro que estarei sempre disponível para colaborar, como sempre. Isto não é, de maneira nenhuma, uma retirada do partido e das responsabilidades que tenho como militante e com esse historial.
Daqui a dois anos, não coloca de parte ser candidato?
Não vou fazer esse cálculo. Neste momento, o PSD precisa muito de todos aqueles que têm responsabilidades e história no partido. Precisa de muita gente nova e de renovação, mas também precisa de muita gente com pergaminhos, de uma geração atrás da minha e de algumas gerações que estão à minha frente. Precisamos de todos porque a situação do partido é difícil.
A circunstância de haver uma maioria absoluta, de haver quatro anos pela frente, de termos agora uma competição da Iniciativa Liberal e até, num registo diferente, do Chega, a circunstância de o CDS ter perdido a expressão parlamentar. É um rearranjo no centro-direita, na direita moderada e menos moderada que exige que o PSD esteja, todo ele, concentrado nesse processo de relançamento do partido. Agora poderá haver vários candidatos, mas, feitas as eleições, o partido, no congresso, deve dar um sinal de grande unidade e de grande disponibilidade para colaborar com aquele que os militantes escolherem. É fundamental.
Entre os nomes de que se fala – Luís Montenegro, Poiares Maduro, Ribau Esteves, Pedro Rodrigues – qual tem melhores condições para avançar agora?
Não vou fazer esse exercício, não vou falar sobre proto-candidatos. O PSD tem, de facto, muitos nomes, ao contrário do que se diz para aí, e tem alguns quadros, que é evidente que não se aplica a todos, com qualidades certas para a liderança. Há com certeza nomes muito fortes e espero que apareçam. O líder que for eleito, qualquer que ele seja, vai ter uma tarefa muito difícil e merece apoio muito próximo e leal.
Está disponível para essa colaboração?
Claro que sim. Estou totalmente disponível para colaborar com a nova liderança.
Irá dar o apoio a algum candidato?
Não sabemos quem são. É um exercício de conjectura que não vou fazer.
E Carlos Moedas. Como é que vê o papel dele no PSD?
Lá está mais um nome e pode juntar a esses que deu o de Miguel Pinto Luz também. Não estão todos na mesma gama, mas não vou agora eu fazer isso. Estou realmente preocupado com o trabalho de reconstrução que vai ser difícil. A maioria absoluta é muito condicionante. Mas pode ter uma virtualidade, que é o partido renovar-se. Não é preciso uma renovação ideológica, houve aqui um erro. O PSD foi sempre de centro-direita, ponto final.
Discorda da estratégia do PSD ao centro.
Não teria sido candidato em Outubro se não achasse que a estratégia era errada. Acho que isso foi confirmado pelas urnas de modo claro. Não é nenhuma crítica nem deixa de ser porque a crítica estava implícita para não dizer explícita na minha candidatura. Tenho a certeza de que o resultado eleitoral seria diferente se fosse eu a ganhar as eleições. Isso são águas passadas, é um juízo que fica para as minhas memórias. Todos merecem respeito, com certeza fizeram o melhor possível.
O PSD é de centro-direita, que nunca deve hostilizar a direita moderada e que, obviamente, para ganhar eleições precisa do centro. Por isso, há tantos militantes que estão ao centro, outros estão no centro-direita e até há alguns que estarão na direita moderada e há um ou outro no centro-esquerda. O que é muito importante é trazer gente nova para o PSD. Não é só jovens mas também na meia-idade.
Está a falar de independentes?
Independentes e de pessoas que se deixaram atrair pela Iniciativa Liberal e eventualmente alguns pelo Chega por insatisfação com os partidos clássicos. E até pessoas que votaram no PS e que podem colaborar. Depois há dois nichos sociológicos para os quais temos de apontar: são os jovens e os mais velhos. É preciso voltar às universidades, às empresas.
Em relação ao calendário eleitoral interno, não é demasiado tempo para esta direcção estar em funções?
Não vou fazer juízos sobre isso. O calendário devia estar clarificado antes, mas o importante era ter um quadro claro.
O que falhou na sua candidatura? Luís Montenegro deixou de dar apoio e isso contribuiu para a sua derrota?
Não vou entrar nessa apreciação. Sou um democrata. Se os militantes do PSD entenderam que havia um projecto melhor e protagonistas melhores era a eles que lhes competia. Depois os resultados eleitorais demonstraram que talvez não fosse bem assim. Há uma coisa que sempre afastei da política que é qualquer lógica de ressentimento. Há uma coisa que mudou nessa eleição: o facto de ter havido a marcação de eleições antecipadas. Alterou por completo os dados daquela corrida. Teve aqui um efeito de tornar os resultados tão próximos um do outro e tão incertos.
Rui Rio mantém legitimidade estatutária e política para escolher os nomes para a liderança parlamentar e para o Conselho de Estado?
Legitimidade estatutária e formal existe. Há muitas maneiras de fazer isso. Pode ser feito pela direcção exclusivamente e pode ser feito tendo em conta que se está na situação de transição. Outra fórmula é dialogar com várias personalidades para encontrar uma plataforma. Posso dizer o que faria se fosse eu, teria em conta o carácter transitório das minhas funções, mas cada um sabe de si.
Não se indicaria a si próprio para o Conselho de Estado?
No meu caso, tenho a certeza que não.
Gostaria de fazer mais um mandato como eurodeputado?
É uma decisão que, pessoalmente, ainda não tomei. Gosto muito de exercer o mandato de eurodeputado e julgo que o exerci bem com proveito para o PSD e para o país. Temos muito tempo para pensar.
Há perigo de o PSD desaparecer, de se tornar irrelevante?
Não, não acho. Tenho muita esperança que a próxima direcção fará o trabalho que tem de fazer. No tempo do professor Cavaco Silva, o PS esteve 10 anos fora do poder governamental e agora está mais do que vivo. Não tenho uma visão nada catastrofista ou fatalista de que vai haver aqui uma espécie de degenerescência. Não, vai haver uma fase difícil mas empolgante ao mesmo tempo.