Franceses da SNCF compram transportadora ferroviária de mercadorias Takargo
Negócio foi feito através da subsidiária Captrain, que já operava em Espanha e pretende agora alargar a actividade em Portugal.
A Captrain, uma filial da Rail Logistics Europe, que por sua vez pertence à sociedade francesa SNCF, comprou a Takargo, a empresa de transporte ferroviário de mercadorias que pertencia à Mota-Engil.
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A Captrain, uma filial da Rail Logistics Europe, que por sua vez pertence à sociedade francesa SNCF, comprou a Takargo, a empresa de transporte ferroviário de mercadorias que pertencia à Mota-Engil.
A Takargo já era sócia da Captrain nas suas operações em Espanha e foi com naturalidade que a SNCF decidiu comprar o parceiro português da sua filial espanhola para o transporte de mercadorias.
Em comunicado, a Rail Logistics Europe diz que “a integração da Takargo numa empresa europeia de relevância do sector acelerará o seu desenvolvimento, tornando a empresa mais forte com oportunidades de vendas cruzadas resultantes da ampla rede geográfica e o vasto portfólio de clientes e serviços da Captrain”.
Os franceses dizem ainda que acreditam “no potencial de mercado de Portugal, que assenta sobretudo no dinamismo dos seus principais portos”. E piscam o olho ao Governo elogiando “os esforços do governo português no apoio ao transporte ferroviário de mercadorias, em particular com a construção e modernização da rede ferroviária”.
O comunicado diz também que “a mudança de accionista não resultará em qualquer alteração no modelo operacional da empresa” pois a equipa actual da Takargo “demonstrou capacidade para gerir o negócio de forma eficaz”.
A Takargo foi a primeira empresa ferroviária de mercadorias privada em Portugal, criada em 2006, quando ainda só havia a CP Carga a operar nas linhas portuguesas. Em 2009, a empresa da Mota-Engil associa-se à Captrain España para operar também no país vizinho formando a Ibercargo.
A empresa transporta essencialmente papel e madeira (destaca-se nas rotas entre a Galiza e as celuloses da Figueira da Foz), produtos siderúrgicos e inertes, operando sobretudo em tráfego ibérico.
Apesar do investimento inicial da Mota Engil, a empresa estagnou e nunca cresceu verdadeiramente, não tendo, em termos financeiros, saído do vermelho. Em Portugal a sua quota de mercado é de apenas 10%. Conta com uma centena de trabalhadores e a sua facturação em 2021 foi de 16 milhões de euros.
A Captrain está instalada na Alemanha, Bélgica, Itália, Polónia, Países Baixos e Espanha, mas opera também em corredores internacionais ligando outros países. Tem um volume de negócios de 600 milhões de euros e conta mais de 3000 trabalhadores. Em Portugal, já está licenciada como operador ferroviário no IMT (Instituto da Mobilidade e dos Transportes).
Além da Medway e da Takargo, e agora da Captrain, também a empresa espanhola Continental Rail se constituiu como operadora de mercadorias.
Questionado pelo PÚBLICO Carlos Vasconcelos, administrador da Medway, que detém uma quota de mercado de 90% no mercado português, diz que esta aquisição e a eventual alavancagem que a Takargo possa vir a ter não constitui um problema nem uma ameaça. “Pode parecer uma bravata, mas gosto da concorrência porque obriga-nos a ser mais eficientes”, disse.