NATO preocupada com “mentiras” de Moscovo para justificar uso de armas químicas na Ucrânia
Secretário-geral aliança militar lembra que o recurso a agentes químicos constitui um crime de guerra e avisa a Rússia que pagará um preço muito elevado se o fizer.
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Depois de três semanas de guerra na Ucrânia que não renderam à Rússia qualquer conquista ou vitória militar, os aliados da NATO estão preocupados que “Moscovo possa montar uma falsa operação” que possa servir como pretexto para justificar o uso de armas químicas, disse o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, esta terça-feira.
“Qualquer uso de armas químicas é absolutamente inaceitável e constituirá uma grave violação da lei internacional e da convenção que a Rússia assinou. Apelamos directamente à Rússia para que não o faça”, declarou Stoltenberg, acrescentando que Moscovo “pagará um preço muito elevado” se recorrer a agentes químicos.
Referindo-se à “longa lista de mentiras” da Rússia, que sucessivamente alegou que não tinha planos para invadir a Ucrânia, ou que estava a retirar as suas tropas da fronteira, dias antes do arranque da sua ofensiva, o secretário-geral da NATO chamou a atenção para os últimos “argumentos absurdos” de Moscovo sobre a existência de laboratórios químicos na Ucrânia.
“É mais uma mentira que nos preocupa”, afirmou Stoltenberg, acrescentando que “todos podemos ver” que se trata de mais uma tentativa de criar uma “bandeira falsa” que sirva de desculpa para o uso de armas químicas — o que constituiria um crise de guerra, assinalou.
Stoltenberg lembrou que o Kremlin tem um histórico no uso de agentes químicos, que comprovadamente foram utilizados em tentativas de neutralização de adversários políticos internos, mas também em conflitos além-fronteiras, como foi o caso na Síria, recordando que o uso de agentes químicos é um crime de guerra.
Mas além do risco do uso de armas químicas, os aliados estão também preocupados com possíveis “acidentes” com armas convencionais em território da NATO.
“Estamos a vigiar e monitorizar o espaço aéreo e a linha de fronteira, porque quando temos actividades militares e combates tão perto do nosso espaço comum, há sempre riscos de incidentes”, notou Stoltenberg, revelando que há uma linha de comunicação aberta entre as chefias militares da NATO e da Rússia para “prevenir e evitar que estes acidentes ocorram e criem uma espiral que faça piorar a situação”.
Confrontados com uma “nova realidade de segurança” na Europa após a invasão da Ucrânia pela Rússia, os ministros da Defesa da aliança vão iniciar o debate político para uma adaptação da postura de dissuasão e defesa da NATO, esta quarta-feira. Espera-se que da reunião saia uma indicação para os comandos militares começarem a estudar “medidas concretas” para reforçar a capacidade de defesa e protecção a longo prazo, “em todos os domínios”.
“Em terra, isto pode incluir o reforço substancial de forças no flanco Leste da aliança, em maior estado de prontidão, e também com mais equipamento”, estimou Stoltenberg. Os planos deverão ainda passar por um “aumento considerável dos destacamentos aéreos e navais, do fortalecimento da defesa integrada aérea e antimíssil, da ciberdefesa e dos exercícios conjuntos”, acrescentou.
O objectivo é preparar o terreno para que o necessário “reset” da postura de dissuasão e defesa, “à luz da invasão da Ucrânia pela Rússia”, possa acontecer durante a cimeira da NATO marcada para o final de Junho, em Madrid.