“Catástrofe” no Iémen: 19 milhões de pessoas vão passar fome

ONU estima que o país atinja o número recorde de 19 milhões de pessoas com fome até ao final de 2022.

Foto
A guerra do Iémen dura há vários anos EPA/YAHYA ARHAB

A crise alimentar que atinge o Iémen “está à beira da catástrofe” devido ao crescente número de pessoas que sofrem de fome, que alcançará um número recorde de 19 milhões até ao final do ano, alertou esta segunda-feira a ONU.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A crise alimentar que atinge o Iémen “está à beira da catástrofe” devido ao crescente número de pessoas que sofrem de fome, que alcançará um número recorde de 19 milhões até ao final do ano, alertou esta segunda-feira a ONU.

Actualmente, 17,4 milhões de iemenitas precisam de assistência alimentar e 5,7 milhões enfrentam níveis extremos de fome, segundo uma nova análise realizada ao Iémen pelo Fundo das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), pelo Programa Alimentar Mundial (PAM) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

Se a situação continuar como está actualmente, as agências da ONU esperam que mais 1,6 milhões de pessoas no país desçam aos níveis emergenciais de fome até ao final do ano.

“A conclusão evidente é que temos que agir agora. Temos que manter a resposta humanitária integrada para milhões de pessoas, incluindo apoio alimentar e nutricional, água potável, cuidados básicos de saúde, protecção e outras necessidades”, disse o coordenador residente das Nações Unidas e coordenador humanitário para o Iémen, David Gressly.

A guerra que assola o Iémen há anos é a causa da fome da população, devido à crise económica causada pelo conflito e pela queda da moeda, que fez com que os preços dos alimentos atingissem no ano passado os níveis mais altos desde 2015.

“A guerra na Ucrânia provavelmente criará grandes choques nas importações, elevando ainda mais os preços dos alimentos. O Iémen é quase inteiramente dependente das importações de alimentos, com 30% das suas importações de trigo provenientes da Ucrânia”, referiu a FAO.

Todos esses factores podem fazer com que o número de pessoas com “níveis catastróficos” de fome cresça 420% no segundo semestre de 2022, das actuais 31 mil para 161 mil pessoas, confirmando uma “contagem regressiva para a catástrofe no Iémen”, enfatizou David Gressly.

O PAM teve que reduzir as rações de alimentos para oito milhões de iemenitas no início do ano devido à falta de fundos. A agência da ONU está a pedir que “novos fundos substanciais sejam doados imediatamente ou haverá fome em massa” no país.

A guerra no Iémen matou 130 mil pessoas desde 2015, tanto civis como combatentes, e exacerbou a fome e a miséria em todo o país.

O conflito no Iémen é considerado pela ONU como a maior tragédia humanitária do planeta: 80% da população do país necessita de algum tipo de assistência para colmatar as necessidades básicas.

Localizado no Médio Oriente, junto ao Mar Arábico, Golfo de Aden e Mar Vermelho, e com fronteiras com Omã e a Arábia Saudita, o Iémen tem uma população de cerca de 33 milhões de pessoas.