O rio Arade recebe uma nova campanha de arqueologia subaquática em parceria com a Noruega

A primeira campanha de mar do projecto Water World, desenvolvido pelo Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática e o Museu Marítimo da Noruega, arrancou esta segunda-feira no rio Arade, em Portimão. A embarcação do século XIX que aí se encontra vai começar agora a ser estudada, com recurso a uma tecnologia inédita em Portugal.

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A campanha vai ser desenvolvida pelo Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática VIRGILIO RODRIGUES

Entre Lagoa e Portimão, o rio Arade vai ser alvo de uma campanha de mar durante mais de duas semanas, para aí se estudar um naufrágio do século XIX. Desenvolvida pelo Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS), em conjunto com o Museu Marítimo da Noruega, a campanha no sítio arqueológico “Arade 23” arrancou esta quinta-feira e decorre até ao próximo dia 1 de Abril.

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Entre Lagoa e Portimão, o rio Arade vai ser alvo de uma campanha de mar durante mais de duas semanas, para aí se estudar um naufrágio do século XIX. Desenvolvida pelo Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS), em conjunto com o Museu Marítimo da Noruega, a campanha no sítio arqueológico “Arade 23” arrancou esta quinta-feira e decorre até ao próximo dia 1 de Abril.

Ainda com poucas certezas, já que não foi estudado “com detalhe” previamente, a equipa responsável pelo projecto, que contará com a direcção científica dos arqueólogos Cristóvão Fonseca e Pedro Caleja, já sabe que se trata de uma embarcação de madeira à vela do início do século, descoberta há dezasseis anos no estuário do Arade.

Numa fase preliminar, os arqueólogos vão realizar uma acção de monitorização, que passará pela limpeza e a preparação do perímetro da embarcação para avaliarem o seu estado de conservação e que poderá exigir escavações pontuais “para clarificar melhor a área”, contou ao PÚBLICO, por telefone, José António Gonçalves, coordenador do CNANS.

Daqui a uma semana, a equipa do centro espera passar à fase do registo fotográfico da embarcação, em parceria com o museu de Oslo, através de uma tecnologia “experimental” e inédita em Portugal - a fotogrametria subaquática georreferenciada -, que permite posicionar geograficamente o levantamento que vão fazer naquela área, explicou o também técnico de conservação e restauro.

Não sendo uma descoberta sem precedentes, uma vez que se conhece uma outra embarcação do mesmo século no sítio arqueológico Arade 1, José Gonçalves, admite a possibilidade de se encontrarem “achados inéditos, como vestígios de outras épocas que podem ir até ao período romano”.

Desde a década de 1970 que se têm vindo a fazer numerosas descobertas arqueológicas no rio Arade, como naufrágios e vestígios desde a época romana, devido à “intensa actividade de mergulho” e aos levantamentos de geofísica realizados à volta do rio, uma área que tem sido alvo de várias campanhas de prospecção por causa das dragagens do porto de Portimão. Segundo o coordenador do CNANS, as várias descobertas devem-se ao facto de o rio ter assistido, “desde épocas remotas”, a uma grande circulação de pessoas, já que formava o principal acesso a Silves, o que o tornou propício a acidentes.

A embarcação sob estudo a partir desta semana foi encontrada em 2006, precisamente no âmbito de uma campanha de prospecção, mas só agora com o projecto “Water World” foi possível alargar o conhecimento sobre a mesma. Mais do que remover o espólio que possa ser encontrado, a ideia do projecto é “preservar ao máximo os achados, a menos que estejam em risco de se perder”, altura em que serão depositados no Museu de Portimão.

Desenvolvido ao longo de quatro anos, entre 2020 e 2023, com um financiamento de 995 mil euros do Programa Cultura do Mecanismo Financeiro EEA Grants, este projecto prevê a realização de workshops e campanhas de mar ao longo do país, para “alinhar assimetrias do ponto de vista metodológico”, sendo esta a primeira. De futuro, estão já planeadas duas outras intervenções na zona da Ria de Aveiro e na zona do Tejo, entre Cascais e Oeiras.

Segundo um comunicado da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), enviado às redacções, ​o “Water World" pretende ainda capacitar o CNANS e a DGPC para “a monitorização e a disseminação do património subaquático português”.

Esta acção no rio Arade envolve também a colaboração de diversas entidades locais como as Câmaras Municipais de Lagoa e de Portimão e de especialistas do CHAM - Centro de Humanidades da Universidade Nova de Lisboa, um núcleo de investigação universitário.