Para que servem as perguntas?
Uma conferência em Lisboa transformou-se num livro que faz perguntas, não responde, mas põe-nos a pensar. A Feira do Livro de Bolonha gostou do que viu e atribuiu-lhe uma menção honrosa.
José Maria Vieira Mendes foi convidado para fazer uma reflexão no teatro Luís de Camões, em Lisboa, à volta da seguinte pergunta: para que serve a cultura? O autor e dramaturgo diz, com bom humor, que o tema “criou uma expectativa que foi divertida de desmontar”. E assume: “Como devem calcular, não respondi à pergunta…” Estas citações foram retiradas do site da Planeta Tangerina, que editou o livro com as imagens de Madalena Matoso.
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José Maria Vieira Mendes foi convidado para fazer uma reflexão no teatro Luís de Camões, em Lisboa, à volta da seguinte pergunta: para que serve a cultura? O autor e dramaturgo diz, com bom humor, que o tema “criou uma expectativa que foi divertida de desmontar”. E assume: “Como devem calcular, não respondi à pergunta…” Estas citações foram retiradas do site da Planeta Tangerina, que editou o livro com as imagens de Madalena Matoso.
O livro mereceu uma menção honrosa da Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha 2022, na categoria de não-ficção. Para Que Serve? mantém o espírito de conferência e de interpelação directa. Assim, logo de início, escreve-se: “Antes de começarmos: há alguma pergunta que queiram fazer? Quem sabe o título deste livro?”
Depois, discorre-se sobre a utilidade/inutilidade de várias coisas. “Para que serve? É uma pergunta que se pergunta muitas vezes, mas… Para que serve perguntar para que serve?”
Num plano em que se representa uma lâmpada, uma tesoura, um banco, uma chave, um garfo, uma lupa, um lápis, uma régua, entre outros objectos, escreve-se: “Há coisas que nós sabemos para que servem. (São coisas que servem para pouca coisa e por isso é mais fácil saber para que servem.)”
No seguinte, surgem um corta-unhas, um pente, uma afia, um saca-rolhas e uma escova de dentes. Reflexão: “Estas coisas são aquilo para que servem. São coisas que dizem no seu nome aquilo para que servem.” Questão: “Lembram-se de mais alguma coisa que seja aquilo para que serve?”
O livro leva-nos depois para “coisas que servem para muita coisa”, como os telemóveis, por exemplo. Há-de encaminharmo-nos até ao que aparentemente “não serve para nada”. Ou, melhor dizendo, convida-nos a reformular a pergunta de partida: “Fará sentido perguntar para que serve, por exemplo, um rinoceronte?” ou “um sonho” ou “um quadro num museu?”
Ao blogue Ler BD, os autores descreveram como o processo de construção do livro foi feito em conjunto, prática comum desta editora, mas também de José Maria Vieira Mendes, que contou não ter dificuldade em fazer cedências, dizendo “não ter grande apego às versões” por ele escritas. “Consigo rapidamente fazer novas versões, mudar coisas.” E acrescenta, com honestidade e graça: “Acho que nunca vou chegar à boa versão. Se eu nunca vou chegar à boa versão, não faz mal continuar a apagar porque elas são todas más. Como não há nunca a que seja ‘a perfeita’ e nunca haverá, podemos sempre estar a trabalhar, adaptando, mudando.”
Madalena Matoso recorda que o facto “de o texto ter vindo ainda um pouco em construção foi muito bom porque [o livro] cresceu de uma forma quase difícil de dizer onde começa uma coisa [texto] e acaba a outra [ilustração]”.
A feira de Bolonha decorre de 21 a 24 de Março e distinguiu outra ilustradora portuguesa, de origem brasileira, Rachel Caiano, na categoria de poesia, por Coração de Pássaro, escrito pela espanhola Mar Benegas e editado em catalão, castelhano e português (Akiara Books).
“Roubamos” aqui a última frase do Para Que Serve? Interrogativa, pois claro. “Antes de terminarmos, há alguma pergunta que queiram fazer?”